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Foto do escritorManuel Rosa de Almeida

PELÉ

Recomendação de cinema


Pelé resgatou a autoestima do brasileiro

Imagem de Folha PE



Em manifestação de apreço popular que parou a cidade de Santos, Edson Arantes do Nascimento foi sepultado na última terça-feira. Milhões de pessoas, Brasil afora, acompanharam o cortejo fúnebre, pela cobertura da televisão. Outras milhões receberam informações da imprensa no mundo inteiro. Um pequeno percentual destes milhões, contudo, conheceu Pelé. E é realmente uma pena que a maioria dos brasileiros não o tenha conhecido. Ah, sim, é verdade... muitos conheceram o Edson Arantes do Nascimento, trabalhando como comentarista, fazendo comerciais, participando de cerimônias ou dando entrevistas. Mas o Pelé não era esse. Pelé era o jogador de futebol.


E como a grande maioria não o conheceu, perdem-se em tolas discussões sobre quem teria sido o maior de todos os tempos. Que piada! Quem entende de futebol, quem viu Pelé jogar, sequer questiona isso. Falam em craques do passado, como Di Stefano, Puskas, Cruijff, Eusébio e Beckenbauer. Todos grandes, de fato. Mas perto de Pelé foram crianças jogando bola. Maradona? Não usava a perna esquerda sequer para matar a bola. Messi? Físico pouco desenvolvido, falta de cabeceio, ausenta-se em plena disputa. Cristiano? Técnica insuficiente. E assim por diante...


Quem entende sequer discute, porque Pelé é o único que dominava com maestria todos os fundamentos: chute, drible, passe e cabeceio. Além disso, usava ambas pernas com a mesma habilidade, tinha um físico privilegiado, fazia lançamentos precisos e possuía uma mágica habilidade para o improviso ( até hoje é o único jogador que vi tabelando com a perna dos adversários ).


A perda de Pelé deixou o futebol mais triste. Mas isso não ocorreu agora, foi lá em 1977 quando o gênio se aposentou. Em 77 perdemos Pelé. Agora, perdemos o Edson. Depois, vez por outra diziam que estava surgindo o novo Pelé. Foi assim com Robinho e Neymar. Não estava... Não creio que possa surgir alguém sequer próximo a ele. Pelé era uma máquina criada para jogar futebol. E o criador jogou a forma fora.

Pelé foi tão admirado que os brasileiros fechavam os olhos para os deslizes do Edson ( poucos, diga-se de passagem ). Uma frase infeliz em uma entrevista, sua apregoada omissão na ditadura, sua tentativas na música, sua pieguice... Ora, por Pelé perdoamos tudo ao Edson. E o Edson realmente não abusou da boa vontade do povo brasileiro, ao contrário: sempre gentil e sorridente para atender os fãs. Entendia que o Pelé era muito maior que o Edson.


Pra quem quer entender um pouco de Pelé e o contexto histórico em que veio ao mundo, recomendo o documentário que a Netflix está exibindo: Pelé. Não tanto pelos mágicos lances do rei. Para isso há produções melhores, um ou dois filmes preciosos ( Pelé Eterno, Pelé o Nascimento de uma Lenda, Isto é Pelé, etc ). Mas para entender o que Pelé significou e em que anos desfilou seu talento, o documentário da Netflix é indispensável..


O documentário tem uma direção primorosa e uma condução sensível. Está repleto de participação de gente que tem o que dizer, de Juca Kfouri a Gilberto Gil, de FHC a José Trajano, passando pelos companheiros da bola. O documentário traz o retrato mais fiel de Saldanha que eu já vi, bem como das razões pela qual foi apeado do cargo de treinador da seleção brasileira em 1969. E ao longo de seus cento e tantos minutos, entendemos porque não se podia exigir do Edson a postura política que ele não teve. Nem é preciso. Pelé resgatou o futebol brasileiro e a autoestima do brasileiro e isso num tempo em que vivíamos afogados pelo complexo de vira-latas ( nas precisas palavras de Nelson Rodrigues ). Vale conferir.


Pelé - Netflix, 2021, 108 minutos

Gênero: Documentário

Direção: Kevin Macdonald

Nota:icipações: Pelé, Rivelino, Zagalo, Juca Kfouri, José Trajano e outros.

Nota: 8

Recomendação: Para quem ama futebol.

Adjetivos: Honesto, sensível, importante.




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