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Foto do escritorTião Maniqueu

A DUBIEDADE DE MANDETTA

Há duas formas de apreciar a resposta dúbia que o Ministro Luiz Henrique Mandetta deu ao infeliz pronunciamento de Bolsonaro.


O pensamento e as intenções do Presidente Jair Bolsonaro não carregam dúvidas. Ele tem muitos defeitos, mas é cristalino, fácil de ler. Bolsonaro só está preocupado com seu futuro político, em não desgastar sua imagem. Por isso preocupa-se fundamentalmente com a economia, porque a conta em termos de popularidade - no que toca aos impactos da economia - debita-se do governo federal. Já a conta no que toca aos impactos na saúde debita-se dos governos estaduais e municipais, gestores da rede hospitalar pública. Pedro Malan, ex Ministro da Economia, quando decifrou a motivação de Bolsonaro, saiu-se com esta frase, tão terrível quanto verdadeira: Bolsonaro prefere contar os mortos do que contar os desempregados.


Mas o que dizer do Ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta? Muitos imaginaram que renunciaria, já que a maneira como Bolsonaro o desautorizou em rede nacional foi, no mínimo, constrangedora. Cheguei a visualizar uma cena épica: é Mandetta agora que fala em rede nacional, afirma que o Presidente é um capitão e, portanto, não entende nada de medicina, deixando claro que todas as orientações do Ministério da Saúde devem ser seguidas à risca. E claro, seria demitido.


Contudo, não fez isso. Veio a público em entrevista coletiva, cheio de dedos com o Presidente, afirmando que temos outros mecanismos para enfrentar o coronavírus e devemos deixar o isolamento voluntário para um momento futuro, de maior gravidade. Vamos, explicou ele, tentar outras medidas, como limitações à mobilidade, restrições por bairros, blá, blá, blá. Mas, afinal, e tudo que ele disse antes? Era despropositado? Precipitado?


Como Mandetta não é tão cristalino quanto o capitão, podemos entender sua postura dúbia de duas maneiras: pelo viés positivo ou pelo viés negativo.


Viés negativo: Tal qual o Presidente, Mandetta também é motivado por segundas intenções. Ele era deputado federal até a ascendência de Bolsonaro e não quer perder a projeção que o cargo de Ministro lhe confere. Além disso, com a pandemia, Mandetta está em foco da imprensa nacional. Se para manter tudo isso é preciso engolir sapos e suportar as toscas interferências do Presidente, que seja. Vamos contemporizando, relativizando e ainda poderemos fazer um bom trabalho.


Viés positivo: Mandetta é um patriota. O pronunciamento de Bolsonaro foi um desserviço à nação e uma ofensa pessoal a ele, Ministro. Mas pelo bem do Brasil, ele não pode pular do barco em meio à tempestade. Seria necessário remontar a equipe, algo prejudicial ao enfrentamento da pandemia e, além disso, o ministério provavelmente iria para Antonio Braga Torres, Presidente da ANVISA - Agência de Vigilância Sanitária, entregando a saúde do país ao terraplanismo e ao gabinete do ódio. Algo terrível de se imaginar.


Então? Você decide...


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