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A ELEIÇÃO VIROU



Com Kamala candidata, o Partido Democrata voltou ao jogo. Mas Trump é um adversário terrível. Façam suas apostas.


Imagem de Revista Oeste.



Kamala escolheu seu candidato a vice-presidente, o governador de Minnesotta, Tim Walz. Ele foi apresentado ao eleitorado na última terça-feira, dia 6, em um animado comício na Pennsylvania. Sucesso total. Walz é um homem do Meio-Oeste, nascido em uma pequena cidade de Nebraska. Fala como um, veste-se como um, gosta das mesmas coisas que seu eleitorado gosta. É incisivo e bem-humorado. É um homem de sólidas convicções democratas, mas com um diferencial: dialoga facilmente com o eleitorado conservador. Pudera, seu currículo inclui ser um veterano, ter sido professor de High School, ter sido técnico do time de futebol da escola, que levou ao título de campeão estadual pela primeira e única vez na vida. O homem certo para conversar com o eleitor branco, sem educação superior (classe trabalhadora), que acorre em bandos para Trump. Sua escolha sinalizou uniformidade ideológica na chapa democrata (aliás, como a de Trump-Vance), mas com um diferencial: Walz não faz parte da elite liberal da Costa Oeste ou Leste, que assusta o eleitorado em Estados mais conservadores. Walz é gente como a gente.


As pesquisas mais recentes detectaram a mudança. Na pesquisa New York Times/Siena College, publicada no sábado, dia 10, a dupla Kamala-Walz já supera Trump nos Estados da Pennsylvania, Wisconsin e Michigan, três Estados-Pêndulo, por 4 pontos percentuais. Nos Estados Unidos, a eleição consiste em 50 eleições estaduais, onde o vencedor arrasta todas as fichas (exceto em dois Estados), designando todos os delegados eleitorais do Estado. Na maioria deles a eleição já está decidida a favor do Partido Republicano ou Democrata e a batalha consiste em conseguir os delegados de Estados onde o eleitor está indeciso.


Aparentemente, Trump não conseguiu reverter o ímpeto da campanha de Kamala. Ele, mostrando porque é o líder republicano, foi a uma entrevista na Associação Nacional de Jornalistas Negras (um território hostil) onde lançou a dúvida sobre se Kamala é negra ou indiana, para indignação de todos. Kamala não mordeu a isca. Trump ainda está tateando, buscando o tom certo em sua ofensiva contra Kamala. Em discussões privadas ele ainda se mostra inconformado com a mudança de candidato, insultando Kamala (bitch). Em público ainda não definiu a palavra-chave como fez com Hillary Clinton e Biden, tanto em termos de insulto pessoal como mensagem política (Crooked Hillary, Sleepy Joe, Make America Great Again, Build the Wall). A campanha republicana quer se concentrar na mensagem política que Trump tem a oferecer – imigração, economia, segurança pública, os tradicionais pontos fortes do Partido – mas Trump, sendo quem é, não tem a disciplina necessária para focar em programas políticos. Ele é um homem que dominou a arena política comunicando-se diretamente com a platéia, porque mudaria agora, aos 78 anos?


Talvez Trump esteja se ressentindo do peso da idade. É uma questão a ser respondida.


A pergunta que não quer calar: quanto tempo vai durar a lua de mel do eleitorado com Kamala? Biden renunciou à candidatura há três semanas, e desde então Kamala só tem colecionado vitórias: unificou os caciques do Partido – eles se uniram em um ato de desespero -, energizou a base democrata (fundamental em uma eleição onde o voto não é obrigatório), arrecadou montanhas de dinheiro (sem dinheiro não há anúncios na mídia e não há como pagar as despesas de campanha), e colocou Trump na defensiva. Mas como o analista Nate Cohn pontuou em sua coluna no New York Times, a mudança na percepção pública sobre Kamala mostra que a visão do eleitorado sobre ela não está consolidada. Mudou hoje, pode mudar amanhã. E a eleição será dia 5 de novembro, daqui a 83 dias.



Para ter uma visão de quem são os habitantes de Minnesota, a terra de Tim Walz, assista Fargo, o filme dos Irmãos Coen. Foi indicado a sete prêmios no Oscar, incluindo melhor filme e direção. Frances McDormand ganhou como melhor atriz e os Coen o de melhor roteiro original. Fargo é uma cidade na fronteira com Minnesota. Há também uma série, muito elogiada (não assisti) na Prime Video, inspirada no filme. Kamala o escolheu para melhorar a comunicação com os caipiras do Meio Oeste, que desconfiam de seu charme californiano e de São Francisco. Walz confessou que só esteve uma vez lá. Caipira total.

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