Bolsonaro e líderes oposicionistas manifestam-se. A história se repete...

Imagem de: www.slon.pics / Freepik
Munique, 11 de novembro de 1923. Após tentar um golpe de Estado, Hitler está preso. Nos dias 8 e 9, liderados por ele e por Ludendorff, 2000 nazistas avançaram sobre o Feldherrnhalle, um monumento colossal na Odeonsplatz erigido por ordem do Rei Ludwig I para homenagear a tradição do exército da Baviera. Na praça, membros do governo - a República de Weimar, um governo flagrantemente fraco - participavam de uma manifestação. No confronto que se deu, forças federais e da polícia bávara conseguiram conter os nazistas ao custo de 21 mortes.
Imagine a seguinte situação: no dia 12 de novembro de 1923 os nazistas publicam um manifesto em todos jornais da Alemanha. Alegam que tudo não passa de uma tentativa do governo suprimir lideranças oposicionistas, forjando acusações e restringindo a liberdade do povo alemão. Como sabemos, Hitler foi condenado a cinco anos de prisão. Cumpriu somente nove meses, tempo suficiente para ditar o Mein Kampf ao seu companheiro de cela, Rudolf Hess. Nesta obra seminal do nazismo, Hitler defende ideias de eugenia, espaço vital e antissemitismo.

Tropas nazistas da SA avançam no Putsch de Munique - Imagem da BBC
Os alemães pegaram leve com Hitler e puderam se arrepender amargamente. Menos de dez anos depois, Hitler atingiu o poder. Logo instalou a mais cruel ditadura que resultou na 2ª Guerra Mundial, numa Alemanha em ruínas e no genocídio.
Na última quarta-feira a oposição lançou um manifesto contra o indiciamento de Jair Bolsonaro pelos atos de 8 de janeiro. Entre os absurdos ali presentes, destaco a seguinte passagem: a denúncia contra Bolsonaro representa mais um degrau na escalada criminosa contra a liberdade dos brasileiros. Bolsonaro não ficou atrás e lançou nas redes sociais as seguintes pérolas ( como está bem redigido, sabemos que não foi ele quem escreveu ):
O mundo está atento ao que se passa no Brasil.
O truque de acusar líderes da oposição democrática de tramar golpes não é algo novo: todo regime autoritário, em sua ânsia pelo poder, precisa fabricar inimigos internos para justificar perseguições, censuras e perseguições arbitrárias.
A cartilha é conhecida: fabricam acusações vagas, se dizem preocupados com a democracia ou com a soberania, e perseguem opositores, silenciam vozes dissidentes e concentram poder.
Apesar da cara-de-pau e do incrível cinismo de Bolsonaro, há algumas verdades na nota. Ele citou Venezuela e Nicarágua como países que agem desta forma. É verdade. Só esqueceu de citar a ditadura militar - que tanto defende - bem como as ditaduras da América do Sul.
E também é verdadeira a afirmação de que se trata de uma cartilha conhecida. De fato, conhecida desde a ascensão do facismo na Itália e do Nazismo na Alemanha. A história sempre se repete e a humanidade nunca aprende. Num mundo que avança para o totalitarismo - de direita e de esquerda, tanto faz - pessoas moderadas simplesmente não são ouvidas.
Só um tolo não entendeu o que foi o 8 de janeiro. Já se fala no Congresso Nacional em anistiar os acusados e em alterar a Lei da Ficha Limpa. Se pegarmos leve com Bolsonaro, condenaremos nossa tênue democracia a um fim precoce. Os alemães pegaram leve com Hitler. Deu no que deu.
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