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Foto do escritorManuel Rosa de Almeida

AFINIDADES ELETIVAS

Recomendação de leitura


Revisitando os clássicos.


Johann Wolfgang von Goethe - Imagem de Brasil Escola


De vez em quando procuro visitar os clássicos para riscar da minha lista alguns livros e autores. Todos nós conhecemos alguém que, numa rodinha pretensamente intelectual, de vez enquanto sai com essa: você ainda não leu fulano? Você não leu a obra X ou Y? E depois de um balançar de cabeça em acusador desalento: Mas esta é uma leitura obrigatória...


Calma, amigo leitor. Isso não passa de arrogância vazia. Não há leituras obrigatórias ou indispensáveis. Tampouco autores que você deva morrer de vergonha por nunca ter lido. São tantos os clássicos, é de tal tamanho a lista das obras ditas essenciais, que não há ser humano capaz de evitar algumas ou muitas lacunas em sua lista.


Entretanto, para quem realmente gosta de ler, convém, vez por outra, revisitar os clássicos. Para o leitor desacostumado a esta aventura, cabem breves conselhos preparatórios. A literatura está, quase sempre, adequada ao seu tempo. É preciso aceitar o ritmo e as idiossincrasias relativas a cada autor e seu tempo. Seria um absurdo, por exemplo, pretender ler Homero e ficar agastado com as frequentes evocações dos deuses. A obra foi escrita antes de 800 AC! Está inserida em seu tempo.


Do mesmo modo, se você pretende ler Goethe, como é o caso da recomendação que faço hoje, precisa entender o ritmo da literatura de Goethe, adequada ao romantismo do seu tempo. A obra flui naturalmente, mas lenta como um rio de planície. As descrições são muitas, como é próprio da época, porém são descrições esmeradas e inteligentes. Os personagens são apresentados gradativamente e paulatinamente amarrados uns aos outros nas teias de um destino cujo tecelão é o autor.


Entendendo isso, saboreie Goethe com vagar. Desconsidere os devaneios, até as observações algo preconceituosas ( de resto, poucas )... coloque em tudo o sinete dos Séculos XVIII e XIX. E siga o fluxo do rio denso e pesado que em seu tempo atinge o mar.



Imagem de Estante Virtual



Afinidades Eletivas ( 1809 ) é por muitos considerados o mais psicológico dos romances de Goethe. Trata-se de um quadrado amoroso, um quatrilho alemão, de certo modo ousado para sua época. Eduardo e Carlota, o Capitão e Otília, são personagens interessantes envolvidos por amizade e amor. A amizade é sincera. O amor é transgressor. Este cresce num andante compassado que sofre algumas nuances, passando por vibratos e fortíssimos, para depois refluir novamente em ritmos mais lentos.


Os personagens são investigados do ponto de vista de seus valores, pensamentos e história. Otília é o personagem mais fraco, talvez inadequado para uma heroína do Século XXI. Mas para ela convergem as atenções finais e as ações conclusivas. Eduardo é o próprio Goethe, já que o romance é por muitos tido como parcialmente autobiográfico.


Em meio a tudo isso você é brindado com alusões à vida no campo da Alemanha pré unificação, passagens históricas e pequenos eventos que, embora aparentemente deslocados, farão sentido no final. Se você pretende riscar Goethe da sua lista, você pode, é claro, optar por Fausto ou Werther. Mas considere Afinidades Eletivas, o mais psicológico dos romances de Goethe.



Li Afinidades Eletivas numa antiga edição de bolso que faz parte de uma coleção, as Edições de Ouro da Tecnoprint Gráfica, edição de 1966. Desta coleção, que pertencia à minha mãe, já li páginas memoráveis de muitos clássicos. Você pode encontrá-la em qualquer sebo ou procurar nas livrarias eletrônicas por uma edição mais recente de outra editora.

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