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Arthur de Lacerda Neto

Amizades e afetos - Parte II


O abraço é gesto de carinho, externização de afetividade.



Arthur Virmond de Lacerda Neto

Imagem de StockSnap por Pixabay


II- Abraços.


Dentre as características que individualizam o ser humano e o distinguem dos animais, contam-se o desenvolvimento superior das suas inteligência e afetividade: mais inteligente de todos os seres vivos, o humano é também o dotado da maior capacidade afetiva, de experimentar sentimentos e de exprimi-los, tanto os maus quanto os bons.


São maus a inveja, a possessividade, o ciúme, o ódio, o ressentimento, a zanga, a animadversão, a antipatia, o desprezo, a altanaria, a vaidade, a intolerância, a prepotência, a indiferença. Todos eles provocam, em graus diversos, alguma espécie de sofrimento no nosso semelhante e identificam-se na sua comum atitude negativa em relação a ele.


Por outro lado, há o carinho, a bondade, a admiração, a veneração, a ternura, a paciência, a compaixão, a tolerância, a fraternidade, o desprendimento, a solidariedade, o preocupar-se com os outros. Todos eles propiciam, em medidas várias, algum tipo de conforto no nosso semelhante e caracterizam-se por sua comum atitude positiva acerca dele.


No caso dos bons sentimentos, predomina o altruísmo; no caso dos maus, o egoísmo: naqueles, achamo-nos com o outro, somos nós mais o outro; nestes, achamo-nos sem o outro, apesar dele, até contra ele, somos nós menos o outro. Aqueles aproximam e unem, estes, afastam e dividem; aqueles felicitam nosso semelhante, estes, infelicitam-no ou, quando menos, não o felicitam e possivelmente infelicitam-nos a nós


Assim como há variações de temperamento entre as pessoas, as há também de afetividade: cada pessoa encarna um sistema de sentimentos em que os bons e os maus combinam-se em diferentes proporções e verificam-se em diferentes situações.


Entre uns e outros, são preferíveis os bons. Porém adotá-los apenas, talvez não baste: é enriquecedor da relação humana exprimi-los: sensibilidade que se não confessa, que se não deixa perceber (por palavras, atitudes, gestos, sorrisos, tons vocais), é sensibilidade inexistente para quem a votamos.


Aspecto da diversidade entre as pessoas corresponde às múltiplas formas como elas exprimem-se afetivamente, desde quantas, por timidez ou por temperamento, contêm-se e ocultam seus sentimentos, até quantas exteriorizam-nos.


Há vários modos de exteriorização dos bons sentimentos: alguns preferem presentear; outras, visitar, telefonar, parabenizar no dia de anos, enviar cartões e mensagens de final de ano. Outros (os casais apaixonados) dão-se as mãos, beijam-se, recostam-se um no outro e deixam-se ficar assim, em silêncio: de mais não carecem: basta-lhes a proximidade física, sentir um o corpo do outro.


Alguns abraçam: praticam o gesto, físico e afetivo, de aproximação: peito contra peito é o mesmo que coração junto de coração; são duas afetividades que se confessam, dois corpos que se tocam.


Ocasionalmente, as pessoas estão carentes de atenção, carinho, afeição, e não os tem, não os recebem, amargam-lhes a falta, confrangem-se por isto, o que lhes chega mesmo a provocar alterações orgânicas: o físico padece quando sofre o moral. Em outras ocasiões, elas acham-se imbuídas de carinho, de afeição, de bem querer, o que se lhes transborda: é quando expressam sua afetividade, e abraçam.


O abraço é gesto de carinho, externização de afetividade; é natural, é normal, sobretudo é humano e principalmente é bom: abraçar é bom, provoca sensação de prazer emocional, de conforto psicológico e físico: o organismo beneficia-se quando experimentamos boas emoções.


Os toscos, notadamente homens, porventura confundem o abraço com inclinações homossexuais, motivo por que evitam abraçar e desgostam-se quando abraçados, em preconceito que dificulta a expressão afetiva e, portanto, inibe uma forma de felicitar-se as pessoas. Por idiossincrasia, por desgosto de contactos físicos, o abraço será incômodo para alguns, como pode também sê-lo dependendo da ocasião e de seu autor específico em relação a seu recipiendário específico: abraçar pode ser invasor, não é forçosamente bem-vindo, embora geralmente o seja. Os tímidos, os introvertidos, os melancólicos, têm menos espontaneidade e desenvoltura para abraçar do que os extrovertidos e alegres.


Há abraços amorosos, entre quem se ama, bem assim os há afetuosos, confessores de amizade, compreensão, solidariedade, perdão, carinho, amor, bondade, simpatia, empatia: tudo isto é bom, como o é manifestar tudo isto e ser objeto disto tudo. Há abraços entre conhecidos, amigos, colegas, camaradas, parentes, desconhecidos; ocorrem entre quem já se conhece e entre quem se conheceu na ocasião em que ele se dá. Alguns ocorrem por pura espontaneidade afetiva e afetuosa; outros, em surtos de alegria (como entre ludopedistas, ao marcar-se tento; em festas de anos; em comemorações de êxitos); a ainda outros induzem sentimentos gratos, ao ser homem objeto de especial atenção de outrem (ao ser presenteado com prenda que o sensibiliza, por exemplo).


É bonito abraçarem-se pais e filhos, pais entre si, irmãos entre si, amigos entre si, estranhos entre si, porque é bonito uma pessoa abraçar outra, como é bonito, e humano, tratarem-se carinhosamente as pessoas, por gestos, atitudes e palavras.



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