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Foto do escritorManuel Rosa de Almeida

AO MESTRE COM CARINHO

Muito mais que um bom ator…


Imagem de Gerd Altmann por Pixabay

É difícil explicar em palavras o que Sidney Poitier ( 1927-2022 ) representou para um número expressivo de pessoas. Precursor, inspirador, exemplo, os adjetivos dizem pouco. Fato é que ele representou no cinema americano a quebra de um paradigma, estabelecendo o fato puro e simples de que negros podem ser ídolos de massa.


Ser um ator negro no fim da década de 50 ou início dos 60 significava estar destinado a papeis secundários, coadjuvantes. O máximo que se podia esperar era um papel divertido. A segregação racial, sempre forte na América, atingiu na década de 60 um período definidor. Negros não podiam usar o mesmo ônibus ou banheiro de um branco, frequentar a mesma escola, sentar no mesmo banco de igreja. Quanto mais relacionar-se com uma mulher branca ou vice-versa. Malcolm X foi assassinado em 65. Luther King em 68. Só pra ter ideia dos tempos…


Poitier foi gestado nas Bahamas, mas como nasceu em Miami, gozou de dupla cidadania, bahamense e americana. Ele não teve, por assim dizer, um sucesso súbito e bombástico. É certo que já havia participado de vários filmes, desde 1950. E embora a filmografia anterior ao Oscar não seja desprezível, nada apontava para o sucesso que viria depois. Sim, ele era alto e bem apessoado, mas o que sobressaiu em “Lillies of the Fields”, lançado em português como Uma Voz nas Sombras, foi seu talento. Neste trabalho - um divisor de águas em sua carreira - tornou-se o primeiro negro a receber o Oscar de melhor ator. Antes, em 1940, com E o Vento Levou, Hattie McDowell havia ganho o Oscar de melhor atriz coadjuvante. Mas então era uma negra fazendo ( com grande competência, diga-se de passagem ) um papel aceito para negros: subalterno, coadjuvante… É icônico que ela não tenha sequer conseguido assistir à premiere em um cinema de Atlanta, porque a entrada de negros era proibida.


Com Poitier foi diferente. Foi pura afirmação, não apenas de um talento, mas de todo um povo que nele se mirava em grandes telas de cinema. Se o prêmio foi absoluta surpresa, o que veio depois foi mais surpreendente e consagrador: Ao Mestre com Carinho ( 1967 ), Adivinhe Quem Vem para Jantar ( 1967 ) e No Calor da Noite ( também 1967 - provavelmente o ano da sua vida ), são três filmes imperdíveis. O primeiro é puro Poitier; o segundo conta com o luxo do talento da dupla Spencer Tracy e Katharine Hepburn; o terceiro apresenta parceria forte de Rod Steiger. Em 1967 ele gravou seu nome na história do cinema, ao passo em que resgatava o orgulho de todos negros norte-americanos. Ele, aliás, tinha consciência disso, tanto que certa vez afirmou: na época, eu encarnava as esperanças de todo um povo.


Ao todo ele trabalhou em 45 filmes; arriscou-se na direção; foi embaixador de Bahamas; contribuiu decisivamente para mitigar o racismo nos EUA; mas, sobretudo, inspirou uma sequência incrível de grandes atores negros de Morgan Freeman a Denzel Washington, de Will Smith a Forest Whitaker. Se você é fã de cinema, não deve perder a oportunidade de ver os filmes antes mencionados. Sobretudo os trabalhos de 1967.


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