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Foto do escritorTião Maniqueu

CULTO À PERSONALIDADE

Os sinais estão todos aí, bem diante dos olhos…





Em todo Estado totalitário - seja de direita ou de esquerda - há o culto à personalidade do líder. Molda-se um termo - de cunho quase publicitário - para identificar a liderança perante as massas. Hitler era o führer, Mussolini o duce. Stalin fez desta palavra seu nome. De nascença era Josef Vissarionovich Djugatchvili, mas preferiu adotar Stalin ( que significa homem de aço ).


Seguindo na abordagem publicitária, costuma-se adicionar um gesto, algo que fortaleça a identidade do líder e dá às pessoas um sentimento de pertencimento. O braço estendido em ângulo ascendente para os nazistas, o feixe de varas ( fascio ) na Itália, e assim por diante.


Tanto o termo quanto o símbolo estão intimamente ligados ao culto à personalidade do líder, amalgamada com algumas ideias perigosíssimas como infalibilidade, impossibilidade de contestação, adoração, etc. Uma vez instaladas tais ideias no inconsciente coletivo ( o que costuma se dar pelo domínio absoluto dos meios de comunicação e violenta repressão às dissidências ) é muito difícil reconduzir a sociedade a um nível de compreensão e razoabilidade.


O processo é semelhante às distopias de ficção em que um ser extraterrestre vai dominando corpos e mentes em progressão geométrica, até que todos estejam dominados. Nas ficções este ser parasitário em geral é um verme ( uma metáfora muito apropriada ) que invade o primeiro hospedeiro e, a partir dele, vai contaminando inexoravelmente a todos.


Aqui em nossa jovem e frágil democracia estamos em meio a este processo. Quem ainda discorda de que vivemos uma clara escalada do autoritarismo a partir de um projeto de poder de Bolsonaro, talvez já esteja dominado pelo verme. Já ultrapassamos a fase do termo ( mito ) e do símbolo ( mão simulando pistola ). Estamos na fase de dominar pessoas em cargos-chave ( Procurador-Geral da República, Ministros do Supremo Tribunal Federal, membros da Polícia Federal, influenciadores das mídias sociais, proprietários de meios de comunicação, líderes religiosos, empresários, etc ). Estamos na fase da mentira e da estruturação articulada da violência.


Nas distopias de ficção há sempre mocinhos lutando contra os invasores. Há filmes distópicos em que os mocinhos vencem; em outros eles são derrotados e acabam mortos ou igualmente dominados pelo verme. Os mocinhos da vida real são as instituições, também elas compostas por pessoas, algumas já dominadas. Quem faz a resistência à escalada do autoritarismo são tais instituições. As principais delas são: Supremo Tribunal Federal ( um integrante já dominado ), Congresso Nacional ( muitos já dominados ), Procuradoria-Geral da República ( cúpula dominada ), Polícia Federal ( cúpula dominada ), imprensa livre ( que enfrenta a imprensa já dominada ), OAB, entre outras. Se tais instituições falharem, nós sucumbiremos.


A história mostra o que acontece às nações que se entregam ao autoritarismo. Nunca houve um final feliz. Os alemães livraram-se do nazismo por força da destruição total do país pela guerra; os italianos igualmente. Os venezuelanos, os norte-coreanos, os chineses e outros países vítimas de ditaduras somente livrar-se-ão do jugo autoritário após muito sofrimento, seja pelo exaurimento de suas economias, seja por uma revolução sangrenta, seja por uma guerra. Mas é impossível livrar-se de uma ditadura instalada sem muita dor e sofrimento.


Ainda estamos em tempo de evitar que nosso país siga por esta via de desastre e dominação. Todo brasileiro responsável tem a obrigação de falar, escrever, manifestar-se da maneira que lhe for possível, conscientizar as pessoas. É possível salvar aqueles a quem o verme ainda não dominou. A hora de lutar é agora. Afinal, uma vez instalada a ditadura, toda resistência será inútil.


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