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Foto do escritorManuel Rosa de Almeida

CURITIBANICES - SISTEMA VIÁRIO

Novas realidades impõe a reavaliação de todo sistema.


Curitiba já foi uma cidade modelo no que se refere ao transporte urbano. A partir da década de 70, com a administração de Jaime Lerner, novos conceitos de mobilidade foram introduzidos, a começar pelo sistema de ônibus expresso e suas canaletas exclusivas. Ônibus biarticulados, ligeirinhos e suas estações tubo e sobretudo a integração de todo sistema por meio dos terminais - de modo que é possível se locomover por toda cidade pagando apenas uma passagem - tudo isso sempre foi alvo de estudo de urbanistas estrangeiros. Eu mesmo conheci uma equipe de estudantes japoneses que veio cá para estudar atentamente nossos sistema de transporte urbano e todas estas inovações.


É claro, o trabalho de manter o sistema em boas condições é muito mais que imaginar novidades. Implica em fiscalização permanente por meio da equipe de fiscais da prefeitura, na reavaliação rotineira da capacidade das linhas, na redefinição de trajetos, no controle da renovação da frota, nas planilhas para definir o valor das tarifas. São mais de 200 linhas, quase mil ônibus, diferentes tipos de serviço oferecido ( ônibus circulares, interbairros, linhas específicas para hospitais, para universidades, jardineiras turísticas, etc ). Muito trabalho, árduo trabalho.


Além disso é preciso considerar os aspectos políticos como fator importante para o desvirtuamento do sistema. As empresas sempre estiveram nas mãos de um grupo seleto de empresários, pessoas que, claro, sabem defender seus interesses. Há lobby na Câmara Municipal em defesa das empresas de ônibus e certamente algumas campanhas para a Prefeitura Municipal de Curitiba são financiadas pelos empresários. O inverso também pode ocorrer: preocupado com o custo eleitoral, um prefeito pode segurar artificialmente o valor das tarifas, seja criando uma bolha, seja mediante subvenção pública ao sistema. Isso já ocorreu, mais de uma vez.


Embora o sistema ainda seja razoável, claramente não tem a qualidade de outros tempos. Ônibus superlotados em horário de pico são frequentes. Fura-catracas são comuns. Insegurança a bordo também. Por muito tempo acalentou-se a ideia do metrô, como a salvação do sistema. Também eu fui entusiasta da ideia, curiosamente combatida pelo próprio Jaime Lerner. Ora, qualquer um que já tenha andado em metrô sabe que é o meio de transporte urbano mais eficiente, mais rápido e barato possível. Além de apontar os custos da obra - de fato vultosíssimos - Lerner acha que o sistema como está ainda não esgotou. A questão é: precisamos esperar o sistema esgotar? Ou devemos nos antecipar ao esgotamento?


Como disse, sempre fui entusiasta do metrô e sempre achei que estamos décadas atrasados com relação a isso. Agora, contudo, penso que devemos esperar mais um pouco para fazer avaliações, já que houve mudanças drásticas na mobilidade urbana de Curitiba. Os aplicativos entraram com tudo, competindo realmente com o sistema de ônibus, retirando grande parcela de seus passageiros. E a pandemia impôs novos comportamentos, como o home office. Ainda é muito cedo para saber o efeito destas novidades na demanda do sistema viário de Curitiba e talvez seja precipitado gastar bilhões numa linha de metrô. Então, ora bolas, se estamos décadas atrasados com relação ao metrô, agora podemos esperar mais um pouquinho...


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