DELEGADO PLÍNIO CONTRA A OKW
- Hatsuo Fukuda
- há 15 minutos
- 4 min de leitura
Uma aventura do delegado Plínio.

Imagem de Getty Images.
6. UM BAR NA FRONTEIRA
O delegado Plínio coleta informações na fronteira. E descobre que foi descoberto.
O homem entrou no bar, aparentemente distraído, mas com o olhar atento aos poucos fregueses que tomavam cerveja. Falou com a moça atrás do balcão: “Una cerveza.” Foi servido em silêncio. Um zumbido de moscas se ouvia no local. O calor opressivo era aliviado por um ventilador no teto que espalhava ondas de ar quente nos clientes silenciosos. Os bêbados não ligavam. Ele se dirigiu à porta que levava aos fundos. Entrou na cozinha, onde uma mulher cortava carne para o almoço. Ela interrompeu o trabalho, sentou-se na grande mesa onde carnes e vegetais aguardavam o preparo e serviu dois cafés. Conversavam em voz baixa, como dois velhos conhecidos.
- Llegas tarde, hombre. ¿Dónde has estado?
- Aquí y allí. Caminando por la orilla del río.
- Te diviertes mientras yo trabajo, cabron.
Ele sorriu e disse:
- Te llevaré a dar un paseo pronto. ¿Conoces las Cataratas del Iguazú? Tomaremos un vino y comeremos una barbacoa.
Bebeu lentamente a cerveja e foi passear à beira do rio. Duas horas depois, ela apareceu, fresca e levemente perfumada, mas já não mais vestida como uma dona de bodega de fronteira. Ela não se vestiria como operária para encontrar um homem. Mirtes estava animada por vê-lo, relaxada, mas um pouco ansiosa. Ela juntou o corpo ao dele, e beijou-o, faminta, totalmente entregue ao ato. Era uma mulher despudorada, embevecida por estar com seu amigo há muito esperado.
Deitados na relva, ficaram olhando as folhas tenras das árvores, iluminadas pelos raios de sol. Uma pequena borboleta amarela esvoaçou e veio pousar no ombro nu de Mirtes. Ela quebrou o silêncio, contando as novidades da vida de bodegueira. Um homem aparecera de manhã, e ela notara o revólver no tornozelo e uma faca na cintura. À tarde, um outro aparecera, e debaixo da camisa larga percebia-se o coldre na cintura. E uma faca.
Plínio entrou em estado de alerta. Ele detectava nela os sinais de fadiga do agente atuando no campo. A preocupação crescia enquanto ela falava. Algo estava errado. Imediatamente tomou a decisão de desmobilizar a operação. Mirtes e seu posto estavam sendo muito úteis, mas todos os seus instintos gritavam que ela tinha sido detectada. A coronel Maribete, da Patrulha da Fronteira, havia alertado que seu disfarce havia sido descoberto pela OKW, mas Mirtes e sua bodega de fronteira também estavam comprometidos.
Mirtes de alguma forma sabia que seu destino havia sido traçado. A morte a rondara nos últimos dias, mas agora sentia que o perigo se afastava. Ela teria morrido naquela mesma noite, vítima casual de uma briga de bêbados. Uma faca ou um tiro acidental a mataria. Uma pequena abertura no destino traçado surgira com a chegada de Plínio e era necessário aproveitá-la. Eles levaram o jipinho em que Mirtes viera até uma pequena clareira e o esconderam. A seguir se dirigiram para o local onde um barco aguardava o delegado. Mad Leo os levou para a segurança do outro lado do rio.
Plínio pensava no que estava acontecendo. Suas principais bases de operação no Paraguai e na Bolívia haviam sido desativadas. Muita informação fora coletada, mas muito ainda havia a ser descoberto. Plínio sabia que as fazendas levantadas, as rotas de distribuição, os pontos de passagem na fronteira do Rio Paraná e na fronteira seca com a Bolívia, os locais de transbordo no Brasil, eram apenas uma ponta do iceberg. Destruídos estes locais, presos ou mortos os soldados que os guardavam – o que a Coronel Maribete faria em um piscar de olhos - nada significariam ao negócio. Plínio estava longe do comando da organização. Logo se dera conta que não era uma simples quadrilha de traficantes de drogas. A disciplina militar que os membros mais humildes possuíam, a organização empresarial na produção e distribuição dos produtos, a quase impossível tarefa de rastrear os altos escalões, tudo levava a crer na existência de um gênio do crime orquestrando a operação.
Não, de nada adiantava acionar a Matadora da Fronteira. O trabalho não era de açougueiro. Ainda.
O barco se aproximava lentamente da margem do rio. Mirtes, aliviada, sentia que a morte estava se afastando. Mas não muito. Ela seguiria para um local seguro, aguardando a próxima rodada. Mas tão cedo ela não tomaria vinho com seu amigo e operador Plínio.
Esta é uma obra de ficção. Os leitores desavisados que se dispuserem a ler (por sua própria conta e risco) estejam advertidos que este Blog não se responsabiliza pelos desatinos do autor. Este suposto romance será publicado em capítulos toda terça-feira. Qualquer semelhança com fatos e pessoas é mera coincidência e não poderá ser imputado ao blog qualquer responsabilidade. A publicação poderá ser interrompida a qualquer momento, caso o autor morra, se suicide ou seja internado por insanidade mental. (Nota do Editor).
Se você deseja reler os capítulos anteriores, a obra completa - até onde foi aqui publicada - estará entre os posts já publicados, bastando você rolar a tela para encontrá-la.
Comments