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DITADORES SÃO ADMIRADOS


O que pode explicar a admiração por ditadores?


Imagem de Wikipedia.


Recentemente ( 7 de abril ) publicamos o excelente artigo de Vitorio Sorotiuk em que ele analisava as razões da invasão da Ucrânia pela Rússia de Putin. Vitório explicou a motivação de Putin, as razões de existirem figuras autoritárias como ele e o conceito de russismo. Pessoalmente, achei o artigo brilhante e recomendo sua releitura.


A partir destas considerações, o que realmente me surpreende é que há muitas pessoas que admiram figuras como essa. Sim, amigo leitor, há muitas pessoas, realmente muitas pessoas, que admiram figuras como Putin, Netaniahu, Bolsonaro e aí por diante. Racionalmente, é contra todo bom senso. Afinal, você está admirando um ditador, alguém que, em última instância, vai restringir sua liberdade e que, se atingir o poder, impedirá você até mesmo de escrever um artigo simplório como este.


A admiração por Putin na Rússia, como Vitorio bem explicou, tem seus motivos. Afinal, o povo russo está acostumado a não ter ampla liberdade, a viver sob o jugo autoritário de um ditador. Desde muito antes de Ivan, o terrível, passando por Pedro, o Grande, Catarina ( também a grande ), pelos Romanov, pelo totalitarismo soviético até chegar a Putin, o povo russo convive com o autoritarismo tão visceralmente, que essa condição é normal (!?) para eles. O povo russo conheceu apenas um espasmo de democracia com o governo de Boris Yeltsin ( alguns grafam Ieltsin ). Ele porém não estava a altura de uma missão assim imensa - convencer o povo russo de que é possível viver em liberdade - e fracassou miseravalmente. E com ele, a delicada democracia russa.


Vimos no Brasil milhões de pessoas se entusiasmarem com uma figura sem a menor condição de liderar uma nação tão grande como a nossa, alguém, de fato, sem quaisquer predicados para o cargo. Bolsonaro sequer fingia: é autoritário até a medula e pretendia estabelecer uma ditadura no Brasil. Deu no 8 de janeiro... ainda assim, milhões de brasileiros continuam admirando e enaltecendo o Jair.


Em Israel e no mundo inteiro, há admiradores de Netaniahu. Escrevemos recentemente ( 08/06 ) que Netaniahu está causando profundo mal ao povo israelense ( nem falo dos palestinos, porque aí vamos ao nível dos genocidas ), seja por destruir a imagem de Israel no mundo, seja por fomentar ainda mais o terrorismo, pela conhecida fórmula opressão/violência gera reação/violência/fanatismo. Aliado ao que há de pior na política israelense ( a extrema direita ) está escrevendo uma página extremamente dolorosa no oriente médio e potencialmente extremamente perigosa para Israel. Mas inegavelmente ele possui milhões de admiradores.


Bem, Stalin, Hitler, Mussolini e outros ditadores também tinham milhões de admiradores. Será, afinal, que o ser humano prefere viver sob o jugo de uma ditadura porque ( pasmem!! ) ela é mais segura? De fato, se você aceitar bovinamente as restrições à sua liberdade ( direito de expressão, de votar, de associar-se, etc ) provavelmente as forças de repressão ditatoriais jamais o incomodarão. Da ditadura bra sileira já ouvi vários depoimentos do tipo nunca tive nenhum problema durante a ditadura...


Democracias são bem mais difíceis. As coisas não andam com tanta facilidade, pois nada é imposto e há o necessário jogo de negociação com o parlamento. Inegavelmente é um sistema imperfeito, perspassado por corrupção ( que, claro, também há nas ditaduras, mas jamais vem a público ) e travado num sistema rigoroso de freios e contrapesos. Churchill disse, não exatamente com estas palavras, que a democracia é um péssimo regime, mas não inventaram ainda regime melhor. Ela é imperfeita, mas pode ser aperfeiçoada ao longo dos anos. Exige tempo. E exige a manutenção plena de instituições indispensáveis à sua saúde: Congresso Nacional, Poder Judiciário, Imprensa livre, organizações sociais e outras...


Fico triste quando alguém manifesta admiração por um ditador. Será que é o poder, a força, aquilo que cativa a fascinação das pessoas? Trocam-se as asas da gaivota por um pedaço de pão. Troca-se a liberdade por uma falsa sensação de segurança. Troca-se o livre arbítrio por uma sociedade rígida e bem comportada. Troca-se a liberdade, enfim, por um populismo tolo e cruel. Sociólogos deviam se debruçar mais sobre este tema, para que entendêssemos, afinal, por quê? Eu juro que não entendo...








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