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Foto do escritorManuel Rosa de Almeida

EM MEIO AOS LOBISOMENS

Atualizado: 6 de dez. de 2022

Um poema de Manuel Rosa de Almeida sobre o medo.



Imagem de Stefan Keller por Pixabay


De tudo tens medo…


Medo de chegar cedo

Medo de chegar tarde

De apontarem o dedo

Medo de qualquer alarde.


De tudo tens medo…


Tens medos infantis

Medos compreensíveis

De coisas possíveis

E de ameaças pueris.


Ah, se soubesses, amor

Apenas um dia sem medo

Vale vinte anos de pavor.


De tudo tens medo…


Tens medo de falhar

Tens medo de perdê-la

Tens medo de amar

E até de protegê-la.


De tudo tens medo…


Irmão, teu medo é tanto,

Que por inteiro te congela

E tua paralisia causa o pranto

E causa a distância dela.


Ah, se soubesses, criatura

Apenas uma hora sem medo

Vale um ano inteiro em paúra.


De tudo tens medo…


Tens medo do fracasso,

Tens medo da pobreza

Medo de dar um passo

Medo da natureza.


De tudo tens medo…


São teus medos de criança

Tão tolos quanto os de adulto

Vampiros, sombras, vultos,

Morte, solidão, doença…


Ah, se soubesses, compadre

Uma efêmera vida sem medo

Vale mais quer um eterno covarde.


De tudo tens medo…


Quisera em teu peito floresça

A chama do entendimento

Que parte do absoluto desapego

E da visão da ampulheta.


Levanta homem, cresça!

Tu não podes dar emprego

Ao teu mendigo, ao teu asceta

Sem mudar seu fundamento.


Em pé, irmão, segue avante!

Vive hoje, vive o presente

Não tenhas medo do futuro

Nem te alimentes do passado.


Teu medo está assentado

Em tudo que te faz inseguro

Despe-te das roupas imediatamente

E segue nu, pura e simplesmente.


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