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Foto do escritorTião Maniqueu

ENCHENTES

Entra ano, sai ano, cada vez pior…


Petrópolis enfrentou seu segundo pesadelo este ano, na noite de domingo para segunda-feira. Novamente os céus despejaram um volume diluviano sobre a antiga cidade do Imperador. Os rios transbordaram, as galerias de águas pluviais não deram conta, carros e pessoas foram arrastadas, comércio invadido por uma lama que a tudo arruina. Novamente, deslizamentos e mortes.


Ao que parece, a cada ano o acaso escolhe uma cidade brasileira para destruí-la e mortificar seus habitantes. Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador, Blumenau, Petrópolis… são contas num rosário de sofrimento que não tem fim. As autoridades enfrentam constrangidas as câmaras da imprensa e explicam que nada pode impedir o desastre quando chove 500 ml em um dia apenas. Será?


Será mesmo que nos resta apenas o conformismo, o socorro emergencial e a liberação extraordinária de verbas públicas? Tudo o que nos resta fazer é atuar depois? Penso que não. Certamente, não é tarefa para apenas um prefeito e seus parcos recursos. Tampouco é tarefa para algumas mentes, mas muitas. Precisamos que especialistas, em várias áreas, deitam um olhar sério e comprometido sobre o problema.


Primeiro, talvez o mais difícil. A visão global. Até quando as grandes potências vão adotar uma postura misto de negacionismo, condescendência e pouco comprometimento? Será que a mudança do clima e o aquecimento global ainda podem ser racionalmente negados? Será que ainda podemos posar em fotos de eventos sobre o clima, assinando pautas tíbias de enfrentamento do problema? Ou as autoridades globais mudam ou o globo continuará mudando. Mudando avassaladoramente.


Depois, há o trabalho nas três esferas do poder no Brasil. Comecemos pelo Planalto ( não, não me refiro aos ocupantes atuais do Palácio do Planalto. Estes estão comprometidos com o desmatamento e o interesse de garimpeiros. Nada podemos esperar dali ). Ao governo federal caberia assegurar no orçamento, parcelas relevantes destinadas aos estados-membros para que estes enfrentassem o problema dentro de suas realidades regionais. As verbas não podem ser meramente uniformes. Há que destinar mais recursos aos estados que enfrentam maiores problemas. Ao governo federal caberia também patrocinar campanhas de conscientização da população, de que trataremos adiante.


Estados e municípios precisam trabalhar em sintonia. Os estados devem identificar os municípios em situação geográfica mais desfavorável, a partir da análise de equipes de especialistas. Aos municípios caberia executar as obras de âmbito local, aos estados as obras de âmbito regional. E são muitas obras desde a limpeza das galerias em cada município até a retificação de rios; desde pequenas obras de contenção local até grandes deslocamentos populacionais, retirando as pessoas de locais de risco para alocá-las em áreas seguras (programas habitacionais que indenizassem as pessoas por seus imóveis e assegurassem financiamentos cujas prestações coubessem no bolso dos menos afortunados ).


Finalmente, cidadão, a sua parte. De nada adianta lamentar a sorte hoje e lançar sua bituca de cigarro na galeria amanhã. Suas obrigações são simples, cumpra-as. Não jogue lixo nos rios. Separe o lixo reciclável. Faça composteiras em sua casa e, se não for possível, entregue seu lixo orgânico à coleta regular de maneira adequada. Evite desperdícios. Não consuma irresponsavelmente, perdulária e insanamente. Eduque seus filhos.


Há uma série de pequenas medidas ao alcance de todo cidadão. Mudanças de comportamento que a população sequer conhece. Aí caberia uma campanha regular de conscientização nacional, financiada e orientada pelo governo federal. O Planalto deve e precisa ser o principal agente de conscientização ( não amigo, não me refiro aos ocupantes atuais do Palácio do Planalto. Esses, cabe retirá-los de lá ).


Muito a fazer, portanto, se não quisermos ser meros operadores de sirene, se não quisermos ser meras carpideiras de verão. A opção é muito trabalho e esforço ou conformismo, autocomiseração e enfrentamento de emergência. Não há outro caminho.


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