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Foto do escritorManuel Rosa de Almeida

FELICIDADE



Afinal, o que é?



Imagem de Esse Mundo é Nosso.


Aproximam-se as festas de fim de ano. O Natal e as reuniões familiares já estão na mente das pessoas. O Ano Novo também, com suas promessas de tempos melhores, com o balanço do que se passou em 2023. Nesta época é comum as pessoas se questionarem sobre felicidade, buscarem respostas e fórmulas para atingir o que consideram uma miragem, ao passo que muitos tornam-se amargos na ciência de que não são felizes.


Igualmente comum é as pessoas condicionarem sua felicidade às pessoas que formam seus relacionamentos ou às condições materiais. Refletem insensatamente: fulana não me faz feliz; se mudasse de casa seria mais feliz; se encontrar minha alma gêmea serei feliz; se tiver sucesso financeiro serei feliz. Tudo isso é bobagem, incompreensão do que seja a felicidade.


Na verdade, ninguém pode fazer você feliz. Tampouco qualquer bem material ou estabilidade financeira. Felicidade é uma luz interna que brilha incessantemente. Independe de relacionamentos ou coisas. Contudo, ainda que a luz esteja sempre lá, as circunstâncias podem colocar anteparos, de modo que a luz se esconda. Estes anteparos sim, podem ser pessoas ou mesmo condições materiais. Ninguém pode fazer você feliz, mas pode obscurecer sua felicidade. Nenhum bem material pode fazer você feliz, mas carências severas podem obscurecer sua felicidade.


Um relacionamento abusivo, pode ser imenso anteparo à felicidade. É quase impossível, por exemplo, uma mulher ser feliz se está ligada a um marido violento, que a desrespeita diariamente com palavras e agressões. Carências severas também podem ser imensos anteparos à felicidade. Como ser feliz, por exemplo, passando fome ou sem ter um teto digno?


Outras tantas vezes somos nós mesmos que colocamos anteparos à nossa felicidade. O egoísmo, a ambição, o ódio, o ciúme, são todos venenos que diminuem nossa luz interior e que afetam nosso equilíbrio físico. É preciso estar atento a todas emoções negativas, vigilantes mesmo. Para isso, a revisão diária de nosso comportamento mostra-se muito útil. Lamentavelmente, as pessoas esquecem-se destes cuidados. Limitam-se a seguir em frente, desatentas, e seguem se envenenando, sabotando sua luz interior.


Felicidade, todos nascemos com esta radiante luz, todos sem exceção. A prova disso são as crianças: toda criança é intrinsicamente feliz. Se não houver anteparos à sua luz natural, as crianças são felizes. Se tiverem pais amorosos e condições mínimas de sobrevivência, crianças são naturalmente felizes. E mesmo crianças infelizes tornam a ser imediatamente felizes se retirados os anteparos. Uma criança com dor, por exemplo, volta a sorrir uma vez afastada a dor. Uma criança com fome volta a ser feliz uma vez alimentada.


Se todos tempos esta luz dentro de nós, cabe-nos afastar os anteparos que se lhe antepõe. Libertar-nos de um relacionamento abusivo. Afastar emoções negativas. Prover nossa existência de condições materiais mínimas, de modo que carências não sejam anteparos à nossa felicidade. A este respeito, Kant tinha um pensamento muito lúcido: dizia que se é certo que a miséria e a doença ( carências, enfim ) facilmente conduzem um homem a agir mal, é dever de todo homem possuir condições mínimas de subsistência ( o que a maioria de nós faz pelo trabalho ) e prover a própria saúde ( mediante hábitos saudáveis ). Em termos de nossa felicidade dá-se o mesmo: temos o dever de lutar por condições mínimas de subsistência digna e de preservar nossa saúde. Por outra: temos o dever de afastar os anteparos à nossa luz interior.


De resto, cada um tem uma fórmula própria para manter sua luz acesa. Religiões e filosofia cumprem aqui um papel nobre. O budismo, por exemplo, traz uma lição essencial à preservação da felicidade numa fórmula muito simples: mata o desejo. Religiões podem trazer ao ser humano o consolo de uma vida eterna e com isso eliminar anteparos. A filosofia e sua busca do conhecimento igualmente. Mas talvez devêssemos aprender com as crianças e os animais: viver o dia de hoje, simplesmente. Passado e futuro não existem, apenas o hoje. Sofrer com fatos passados apenas nos torna ressentidos e amargos. Ressentimento e amargura são anteparos à nossa felicidade. Viver esperando o futuro é tolo. John Lennon já dizia: life is what happens with you while you are busy making other planes.


Não se trata de obliterar completamente o passado, mas guardar dele a nostalgia e as lembranças positivas. Tampouco se trata de ser um completo irresponsável que não planeja absolutamente nada. Trata-se tão somente de não fazer dos planos sua existência do dia-a-dia. Viver hoje. Matar o desejo. Cultivar o pensamento. Afastar os anteparos à nossa luz interior. Espelhar-se em crianças e animais...

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