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FORA DO CIRCO AMERICANO



Enquanto o espetáculo não chega ao final, o mundo pega fogo.



Casa Branca - Imagem de Brasil Escola


Enquanto seu lobo não vem, ou seja, enquanto os eleitores se preparam para decidir, até 5 de novembro, uma das mais disputadas eleições americanas, vale a pena especular as consequências da eleição para o resto do mundo, caso vença um ou outro.


O Brasil, no período que antecedeu as eleições presidenciais de 2022, teve uma amostra do que significou a eleição de Joe Biden para presidente dos EUA. Biden despachou para o Brasil todo o seu alto escalão diplomático, de inteligência e militar: o Diretor da CIA, William Burns; o chefe do Conselho Nacional de Segurança, Jake Sullivan; o secretário de Defesa, Lloyd Austin III, acompanhado do chefe do Comando Militar Sul da Defesa, Laura Richardson. Foi uma operação coordenada pela Casa Branca, durante o ano que antecedeu as eleições presidenciais, e foi provavelmente o fator decisivo a impedir a participação dos militares brasileiros na aventura golpista do então presidente Bolsonaro. Sem o Alto Comando das Forças Armadas, o golpe fracassou. Não se espera nada diferente caso Kamala Harris seja a presidente.


Trump, caso eleito, reforçará os laços com Bolsonaro e seus aliados. Um dos principais aliados de Trump, Elon Musk, tem grandes interesses no Brasil e está em uma guerra aberta com o ministro Alexandre de Moraes, o Xandão, que por sua vez tem Bolsonaro como principal alvo. Resta ver o grau de apoio que a diplomacia trumpista emprestará a Bolsonaro. Se for equivalente ao esforço de Biden, o Brasil pode se preparar para um período turbulento.


O principal fator de instabilidade europeia (e mundial) hoje é a guerra na Ucrânia. Biden tem apoiado o presidente Zelensky com armas, munições e dinheiro (extraoficialmente há conselheiros militares, segundo dizem as más línguas). Mas o apoio não inclui armas de longo alcance; Biden não quer a escalada na guerra. Quer manter os ucranianos na luta, mas sem os recursos necessários para confrontar diretamente Putin. Para Biden, interessa manter a guerra na Ucrânia, consumindo recursos russos e ucranianos. A escalada que Zelensky quer não acontecerá, a depender de Biden. Não se espera uma guinada nesta política, caso Kamala Harris vença.


A situação muda completamente com a vitória de Trump. Ele já disse, na semana passada, em um comício, que um acordo entre Putin e Zelensky, por pior que fosse para a Ucrânia, teria sido melhor do que a guerra. Trump é conhecido por sua amizade com Putin e suas posições America First não prenunciam boas notícias para a continuidade do apoio americano à Ucrânia. JD Vance, o candidato a Vice-Presidente de Trump, já se pronunciou contra o apoio econômico e militar à Ucrânia, o que ressoa bem para os políticos republicanos em Washington e mesmo à base de Trump. O isolacionismo sempre foi uma corrente forte na política americana, e hoje Trump é o seu porta-voz.


A outra fonte de instabilidade mundial é o Oriente Médio. Aqui as posições não são claras. O apoio americano a Israel sempre foi bipartidário, e continuará sendo em vista do peso político e econômico da comunidade judaica nos EUA. Entretanto, as posições de Netanyahu em relação a Gaza não encontram unanimidade mesmo dentro de Israel.


Muitos o vêem como excessivamente radical, ou mesmo incompetente. A continuidade da guerra e a situação dos reféns faz com que a oposição interna israelense modere suas posições frente a Netanyahu. Em outra situação ele teria enfrentado uma cobrança feroz pelas falhas da segurança israelense no ataque do Hamas a Israel em outubro de 2023, que resultou em centenas de israelenses mortos e a captura de 250 reféns. O histórico da inteligência israelense, o Mossad, não autoriza ninguém a acreditar que o ataque nesta escala tenha sido uma surpresa. Por outro lado, a continuidade da guerra em Gaza (e agora a ampliação para o Líbano) tem suscitado em vastos setores da comunidade internacional a acusação de genocídio. Israel refuta a acusação, mas as notícias que vem de Gaza são preocupantes, para dizer o mínimo. Trump sempre teve uma forte posição pró-Israel. Isso significa que apoiará Netanyahu incondicionalmente? Kamala, por sua vez, repete um slogan fácil: quer uma trégua em Gaza e o retorno dos reféns, que é a posição de Biden. Na verdade, a questão eleitoral pesa para ambos. De Kamala, espera-se que dê continuidade às políticas de Biden – ou seja, nada mudará. Quanto a Trump, Netanyahu sempre foi um sólido aliado e quanto a isso nada mudará. Mas as complexidades da situação no Oriente Médio podem levar Trump a uma inflexão. Trump, sendo Trump, é imprevisível.


Faltam cinco semanas para a eleição, em 5 de novembro.



Trump disse que um judeu americano que não vote por ele deve ter a cabeça examinada. Entretanto, a maioria dos judeus votará em Harris. Trump tem 25% do voto judaico. A comunidade árabe pede atenção aos democratas, que os ignora. Harris sabe que eles não têm alternativa. É Harris ou ninguém. Qualquer árabe ou pró-palestino que votar em Trump deve ter a cabeça examinada. O Brasil, que é absolutamente irrelevante no cenário mundial, continuará irrelevante.

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