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Foto do escritorHatsuo Fukuda

GOLPE DE ESTADO


A extraordinária semelhança da tentativa de golpe de Estado no Brasil com o golpe em Bananaland. Noel Rosa explica.


Imagem de Folha UOL



Mas como... outra vez? Toma cuidado, se a moda pega, estou bem certo, acabas como Judas no deserto/Lembrei agora em hora propícia, que o teu caso pertence à polícia/Cabe esta espécie de caso anormal/À Polícia Especial.



Do nosso correspondente em Banana City, capital de Bananaland – Despachos recentes vindos de Brasília, capital do Brazil, noticiam uma tentativa de golpe de Estado em 8 de janeiro. Brazil, como sabem nossos leitores, principalmente da editoria de Economia, que acompanham atentamente os assuntos de South America, em vista das repercussões na importação de bananas, café e others commodities, é um dos principais países da região, famosa por suas exportações de bens não duráveis.

O que tem chamado a atenção dos leitores da editoria é a extraordinária semelhança do golpe de Estado em Brasília (atenção, leitores: Buenos Aires não é a capital de Bananaland. Buenos Aires situa-se em outro país vizinho), com os recentes acontecimentos em Bananaland.


Como se sabe, o antigo ditador de Bananaland, financiado por alguns exportadores de bananas, pretendia tornar-se Ditador Supremo, com apoio de setores das Forças Armadas de Bananaland. Preparou-se um Decreto Supremo, que entretanto, foi esquecido em uma gaveta do antigo Jefe de Polizia Federal. O golpe contava com a participação de militares dos comandos da capital, Banana City, e dos Jefes da Guardia Presidencial Suprema e do Comando Militar Supremo de Banana City. Entretanto, por cautela, os Jefes Supremos, antes do dia designado para o golpe, decidiram se refugiar em Orlando, na Flórida, onde aguardariam o resultado do golpe tomando gasosa com Mickey e Pateta. O Comando Supremo da Guardia Presidencial e Comando Militar Supremo, por decisão estratégica, resolveram não levar as tropas para a tomada do Palácio Supremo, visto que estavam ocupados em tomar gasosa e comer sanduíches de banana – the best banana in the world – deixando a tarefa para os civis desarmados.

Como se vê por este rápido relato, os acontecimentos de Brasília, capital de Brazil – atenção, editor: Buenos Aires não é a capital de Brazil. Trata-se de outro país, vizinho a Bananaland – guardam semelhança com os de Banana City. Entretanto, como sabem os importadores de commodities de South America, são países completamente diferentes. A pauta exportadora de Brazil é mais diversificada, incluindo, como se sabe, banana caturra e banana nanica.

Bananaland, para conhecimento dos leitores, é um país vizinho à Colombia e próximo à famosa Macondo, cuja Academia Militar, dirigida pelo Coronel Aureliano Buendia, treina militares dos países vizinhos. Hoje, em toda South America há militares treinados pelo Coronel Aureliano Buendia, que promoveu cem revoluções e perdeu todas e hoje dedica-se a fazer peixinhos de ouro que a seguir são derretidos. Sua biografia pode ser lida em um livro hoje esquecido, de um escritor colombiano, que ganhou o Prêmio Nobel, Gabriel Garcia Marques, em seu livro Cem Anos de Solidão.


Ao sul de Bananaland encontra-se Eldorado, um país famoso por suas mulheres de pele morena, antigamente chamadas mulatas, que são exímias dançarinas de samba da banana (banana’s samba), uma dança tribal local. Ao norte, Bananaland faz fronteira com o País dos Houyhnnms, uma raça de cavalos falantes e seus escravos humanoides, os Yahoos.

Notícias recentes do País dos Houyhnnms dizem que houve uma revolta e os Yahoos emigraram para os países vizinhos, onde se infiltraram entre os nativos, fomentando a discórdia entre todos. Mas trata-se de um boato, aparentemente fake news, fomentado, segundo dizem os mais bem informados, por agentes da CIA a soldo da Bananafruit, uma holding que monopoliza o comércio de bananas em South America.

Em Bananaland fala-se um dialeto ibérico, uma mistura de português e espanhol com acentos italianos. O povo é alegre e dançante, e tem orgulho de suas bananas, consideradas como las mejores del mondo (the best banana in the world). O grande esporte nacional é fazer leis e constituições (la mejor e más longa Constitucion del Mondo) e discutir quem é melhor ou maior: banana caturra ou nanica? Bala de banana de Morretes ou de Antonina? Gasosa de framboesa ou gengibirra? Bolacha ou biscoito? Chineque de Curitiba ou de Blumenau? E a mais importante de todas: porque Chineque não está no Aurelião ou Houaiss?



Mas como... outra vez? é uma canção já esquecida de Noel Rosa. Foi gravada por Francisco Alves e Mario Reis, entre outros. Cabe a carapuça a quem servir. Quando foi lançada, naqueles longínquos anos trinta do século passado, havia uma Polícia Especial, uma polícia de costumes e outras excentricidades. A Polícia Especial, hoje, ad hoc, é o Xandão. Artistas eram fichadas nas Delegacias na mesma categoria de prostitutas. Vadiagem era crime, capitulado no Código Penal. Carmem Miranda fazia um enorme sucesso com chapéus, criados por ela mesma, com bananas e outras frutas na cabeça. No carnaval cheirava-se lança-perfume, depois proibido, a seguir liberado, e hoje não sei como está. Sempre esteve disponível.


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