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Foto do escritorManuel Rosa de Almeida

GRANDES POEMAS DA NOSSA LÍNGUA

A língua portuguesa tem pérolas esquecidas, espalhadas em velhos livros já não lidos. Hoje resgatamos Guilherme de Almeida…

Imagem de FrankGeorg por Pixabay


ARTE DE AMAR


Olha aquela fonte agitada:

como é verde quando escorre sobre os musgos;

e como é prateada

quando se encrespa sobre a areia e os seixos bruscos;

e como é de ouro quando desliza sobre

as folhas mortas de que o outono soube

fazer flores de fogo frio à flor da terra…


Pela boca múltipla das águas, aquela

fonte, um dia, falou-me assim: -- “Modela

“por mim o teu amor! E que ele tome, como

“eu tomo,

“a cor do leito em que dorme;

“e seja vário e multiforme

“para que se amolde e caiba,

“como a água cabe, em qualquer vaso, e que ele cante

“constantemente, como eu canto, um canto verde;

“e que ele mate qualquer sede;

“e que ele saiba

“possuir a sua amante

“inteiramente, envolvendo-a como a água envolve

“o corpo da deusa ligeira que se atreve

“a banhar-se, e que, em minha mão líquida e móvel,

“ainda fica mais leve!”


Guilherme de Almeida, o Príncipe dos Poetas, membro da Academia Brasileira de Letras, falecido em 1969.

Toda a Poesia, Tomo IV - Livraria Martins Editora S.A, São Paulo, 2ª Edição, 1955.


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