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Foto do escritorManuel Rosa de Almeida

GRANDES POEMAS DA NOSSA LÍNGUA XI

A língua portuguesa tem pérolas esquecidas, espalhadas em velhos livros já não lidos. Hoje trazemos Reinvenção, poema que traz a tristeza do tempo que passa e da vida que surra.

Imagem de Dorothe por Pixabay



REINVENÇÃO

A vida só é possível

reinventada.


Anda o sol pelas campinas

e passeia a mão dourada

pelas águas, pelas folhas...

Ah! tudo bolhas

que vem de fundas piscinas

de ilusionismo... — mais nada.


Mas a vida, a vida, a vida,

a vida só é possível

reinventada.


Vem a lua, vem, retira

as algemas dos meus braços.

Projeto-me por espaços

cheios da tua Figura.

Tudo mentira! Mentira

da lua, na noite escura.


Não te encontro, não te alcanço...

Só — no tempo equilibrada,

desprendo-me do balanço

que além do tempo me leva.

Só — na treva,

fico: recebida e dada.


Porque a vida, a vida, a vida,

a vida só é possível

reinventada.


Cecília Meireles ( 1901/1964 ), jornalista, escritora, professora, pintora, mas sobretudo poeta. Talvez a maior poetisa brasileira. Reinvenção foi publicado pela primeira vez no livro Vaga Música de 1942. A base temática do poema é a solidão, o tema favorito de Cecília. Aqui, porém, ela apresenta um antídoto ou, ao menos, uma possibilidade de alívio: olhar os duros fatos da vida sob uma perspectiva diferente.

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