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Foto do escritorManuel Rosa de Almeida

GRANDES POEMAS DA NOSSA LÍNGUA XXVII

A língua portuguesa tem pérolas esquecidas, espalhadas em velhos livros já não lidos. Hoje encerramos a série com Vinícius de Moraes, um dos poetas brasileiros que melhor falou de amor. Vinícius era um grande letrista, singelo e profundo ao mesmo tempo, acessível ao grande público. Concluímos nossas homenagens ao poetinha com um poema singelo, mas tão cheio de sentido/sentimento que somente poderia ter sido batizado de Ternura.





TERNURA


Eu te peço perdão por te amar de repente

Embora o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos

Das horas que passei à sombra dos teus gestos

Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos

Das noites que vivi acalentado

Pela graça indizível dos teus passos eternamente fugindo

Trago a doçura dos que aceitam melancolicamente.

E posso te dizer que o grande afeto que te deixo

Não traz o exaspero das lágrimas nem a fascinação das promessas

Nem as misteriosas palavras dos véus da alma...

É um sossego, uma unção, um transbordamento de carícias

E só te pede que te repouses quieta, muito quieta

E deixes que as mãos cálidas da noite encontrem sem fatalidade o olhar extático da aurora.



Marcus Vinícius da Cruz de Mello Moraes ( 1913/1980 ). Cumpriu inúmeros e diversos papéis, de diplomata a poeta, de jornalista a compositor, passando por dramaturgo e cantor. Em parceria com Toquinho, compôs, talvez, os melhores sambas da música brasileira. Em parceira com Tom Jobim compôs uma das músicas mais famosas no mundo: Garota de Ipanema. Na poesia notabilizou-se por seus sonetos. Ternura é da primeira fase do poeta, escrito em 1938. Fala da mais pura forma de amor, toda ela êxtase, paz e doação.


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