top of page

GUERRA CIVIL


Pode não ser o que você imaginou, mas vale a pena.


Imagem promocional.


Para muitas pessoas o jornalismo de guerra é composto por pessoas insensíveis, sádicas mesmo, capazes de filmar ou fotografar um ser humano despedaçado arrastando-se à beira da morte. Para outros, jornalistas de guerra são heróis que arriscam suas vidas para trazer ao mundo a verdade sobre conflitos que, sem sua presença, seguiriam anonimamente causando destruição e violência.


Independente da posição que você tenha, é forçoso admitir que, para fazer seu trabalho, o jornalista de guerra precisa assumir uma postura neutra, próxima e distante ao mesmo tempo, quase uma esfinge que apenas contempla ( e registra ) tudo que vê. Se um um tutsi está sendo queimado vivo por um bando de hutus em Kigali, o jornalista de guerra filmará/fotografará sem interferir para depois enviar as imagens ao mundo e mais tarde, quem sabe, lidar com seus demônios.


Vale dizer, goste você ou não dos jornalistas de guerra, não há outra forma de fazer o serviço.


Guerra Civil é um filme sobre jornalistas de guerra, sobretudo os jornalistas fotográficos. Muitos imaginaram - eu entre os muitos - que seria um filme político, a partir do cenário possível de uma guerra civil americana moderna. Para quem tinha esta ideia, haveria motivações políticas, posicionamentos ideológicos, manifestações populares, o desenvolvimento de uma crise até seu ápice e, finalmente, o conflito. Nada disso. Na verdade, o filme já começa com o conflito em seus últimos atos, com o ditador encurralado em Washington D.C. pelas forças da coalizão ( ?! ) Califórnia/Texas. Esta coalizão foi uma sacada do roteirista/diretor para evitar os danos que a polarização que grassa, tanto lá quanto cá, causasse à bilheteria.


A partir desta premissa dois jornalistas se propõe à quase suicida empreitada de obter a declaração final do pretendente a ditador. Para isso terão de se deslocar por mais de mil milhas de território arrasado pela guerra, região cheia de perigos porque impera a desordem, com grupos violentos das mais diversas tendências ( gangues de aproveitadores, snipers psicopatas, xenófobos assassinos e coisas assim ), até atingir a fronteira do conflito e, quem sabe, conseguirem se infiltrar nas forças do Presidente/ditador para obter uma entrevista. Loucura...


Joel ( Wagner Moura ) é o jornalista visionário que se propõe esta missão. Lee ( Kirten Dunst ) é a fotógrafa famosa e consagrada que o acompanha. A ele juntam-se, meio por acidente, meio por interesse, Sammy ( Stephen Henderson ) - um veterano de coberturas de guerra - e Jessie ( Cailee Spaeny ) - uma novata que só consegue espaço porque Joel está de olho nela.


A partir daí a aventura se desenrola revelando de maneira muito verossímil o panorama do que se tornaria os EUA envolto em uma guerra civil, quando a população tem armas de sobra e absoluta falta de lei e ordem. O foco, contudo, está todo na cobertura jornalística, sobretudo a fotográfica ( já que Joel e Sammy tem poucas oportunidades de fazer seu trabalho, exceto por relatos do que presenciam ). O filme se propõe a mostrar a postura necessária ao jornalista de guerra e o preço psicológico que este trabalho cobra.


O quarteto de protagonistas está muito bem representado. Os atores fazem um trabalho esplêndido. Talvez tenhamos novamente uma indicação de um ator brasileiro para o Oscar de melhor ator ( em 1999, Fernanda Montenegro foi indicada ao Oscar de melhor atriz por seu trabalho em Central do Brasil ). Wagner Moura, como sempre, faz um ótimo trabalho. O elenco de apoio também é muito competente, com destaque para Jesse Plemons que encarna um assustador xenófobo assassino numa das cenas mais tensas do filme.


A direção também é muito boa, com Alex Garland captando perfeitamente a atmosfera de uma guerra civil e conduzindo a história com maestria ao seu clímax. É justamente no clímax que, ao meu ver, perdeu a mão e a história se perde. Para não dar qualquer spoiler diria apenas que, em nome do que o roteiro imaginou ser o afã jornalístico, sacrificou-se total e inverossimelmente a humanidade dos personagens. Mas são apenas os cinco minutos finais que recebem esta crítica. E o filme permanece merecendo ser visto.




Guerra Civil - 2024, EUA, 109 minutos, DNA films, em cartaz.

Gênero: Ficção, aventura, drama.

Direção: Alex Garland.

Elenco: Kirsten Dunst, Wagner Moura, Stephen Henderson e Cailee Spaeny.

Roteiro: Alex Garland.

Adjetivos: Realista, impactante.

Recomendação: Para qualquer pessoa que goste de aventura, especialmente jornalistas. Não recomendado para menores, em virtude das cenas de violência.

Nota: 8.

Comments


bottom of page