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HADDAD, O CACHORRÃO BOA PRAÇA


Um bom cachorro protege a casa e o dono. Mas quando o dono não quer ser protegido e os amigos do dono o maltratam?


Imagem de CNN Brasil.



Não resisto a comentar as cachorradas que estão cometendo contra nosso ministro da Fazenda, Fernando Haddad. E aproveito para dizer, novamente, quão absurdo e impróprio é usar a expressão “cachorrada”. Eu a uso por força do hábito – mau hábito – mas não é correto. Nunca vi nenhum cachorro promovendo cachorradas como as que têm atingido nosso ministro, que, aliás, tem um olhar de cachorrão querido. Podem reparar. Um olhar doce e meigo de cachorro que nos ama e nos segue pela casa, seja para tomar um café na cozinha, seja para assistir um filme na sala.


Um cão fiel ao seu dono, que o maltrata sempre que pode, eis a situação a que está reduzido nosso ministro.


Nosso Publisher, que nos proíbe de falar de coisas sérias – ele não confia em minha astúcia – não concorda que eu fale de política e economia. Isto não é para nosso bico de amador. Os sábios do The Economist ou do Wall Street Journal é que têm a palavra nestes temas. (Não o New York Times, jornalão muito liberal para os apetites reacionários do Publisher.) Eu, como bom nativo, vejo que os jornalões locais têm procurado dar uma força ao ministro, após algumas semanas em que ele foi tratado como cachorro sarnento por seus companheiros de partido e pelo próprio presidente. Nesta campanha “Força Ministro Haddad!” a jornalista Miriam Leitão escreveu três páginas no jornal O Globo traçando um perfil do libanês boa-praça.


Fiquei sabendo que o ministro, quando estudante – ele andou pelas Arcadas de São Francisco, o que os advogados sabem que não é para qualquer um – trabalhava na lojinha com o pai. Ele tinha uma salinha com duas pilhas de livros: os lidos e os não-lidos, ambas as pilhas num fluxo incessante. É um leitor e estudioso voraz, atividade a que se dedicava entre uma venda de tecidos ou outra, na Vinte e Cinco de Março, em São Paulo. Ou seja, é um fenômeno latino-americano típico de Macondo: o empresário libanês comunista e intelectual. O Brasil já tinha nos brindado com as figuras improváveis do milionário comunista, o comunista pornográfico, o conservador pornográfico, o presidente pornográfico, e, agora, ficamos sabendo que o filho do empresário libanês era um incansável estudioso entre uma venda e outra. Puro realismo mágico latino-americano.


O pai, Khalil Haddad, tem uma confiança ilimitada no filho. Pudera. Envolvido em uma confusão jurídica que o levaria à falência, o filho desistiu de estudar Engenharia para ir para o Largo de São Francisco, com o objetivo de encontrar um bom advogado que salvasse os negócios do pai. Conseguiu.


Fernando Haddad tenta botar um pouco de ordem na bagunça que herdou. Como comerciante, sabe que deve equilibrar receita e despesa. Mas a companheirada, com slogans fáceis, só quer gastar, nada de economizar. Dá-lhe gastança. Para eles, estamos no País da Cocanha, e as pizzas e queijos caem do céu, e as fontes são de vinho e néctar, disponíveis para todos. Basta pegar, comer e beber. Enquanto isso, tiro, facada e cuspe no companheiro Haddad.


Não vai dar certo.


Como somos otimistas, acreditamos que o ministro terá sucesso, como quando salvou a lojinha do pai da falência. Avante, cachorrão.



O País da Cocanha, onde as pizzas e canelones caem do céu, e os rios e as fontes são de vinho, existe de fato. Um célebre explorador espanhol, cujo nome se perdeu, descobriu o lugar sagrado. Infelizmente o mapa foi também perdido. Paradoxalmente, o mapa que leva ao país da eterna comilança, segundo alguns iluminados, encontra-se nos países mais pobres da América Latina. É para lá que se dirigem os adeptos da seita, em busca da Shangrilá Latino-Americana.

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