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HISTÓRIAS DE SUPERAÇÃO


O mais jovem campeão mundial de xadrez da história.

Imagem de chess.com.



               O mundo conheceu seu mais jovem campeão mundial de xadrez: trata-se de Gukesh Dommaraju, um indiano de apenas 18 anos que se sagrou campeão na última quinta-feira em Singapura, ao final de 14 partidas clássicas contra o chinês Ding Liren.


          Esta disputa teve todos ingredientes necessários para empolgar os fãs do xadrez pelo mundo inteiro e poderia, tranquilamente, compor o roteiro de um filme com a premissa clássica: o jovem talento desafiando o campeão mais experiente. Entretanto, o enredo seria bem mais rico que isso.


          Gukesh tem apenas 18 anos, mas sua aparência, graças a uma barba cerrada, é de 25 anos de idade. É um dos prodígios indianos que despontaram na última década, fruto do entusiasmo que tomou a Índia desde que Viswanathan Anand sagrou-se campeão mundial de xadrez em 2012. É um jogador de comportamento tímido que não era o favorito a vencer o Torneio dos Candidatos realizado no ano passado.


          A vitória neste torneio – quase uma zebra – qualificou-o a desafiar o campeão mundial na disputa que encerrou-se no último dia 12 e trouxe à Índia um clima de Copa do Mundo. As partidas, transmitidas ao vivo com análises e comentários simultâneos, foram acompanhadas por milhares de fãs. Os bons lances de Gukesh eram comemorados como um gol nas partidas mais emocionantes do futebol.


          Do outro lado desta disputa, os elementos de um bom filme também estavam presentes. Depois que se sagrou campeão em 2022, Ding Liren sumiu das competições internacionais e deixou de aparecer em público. Como acontece com muitos esportistas chineses famosos, seu desaparecimento foi cercado de mistério. Alguns diziam que estava sofrendo de depressão, outros que enfrentava problemas com o sistema.


          Em 2024 Ding Liren voltou a disputar torneios internacionais, mas com um desempenho muito abaixo do que apresentara anteriormente, ao ponto de cumprir uma longa sequência de derrotas nas disputas clássicas. Seu mau desempenho em vários torneios fizeram despencar seu rating. Especialistas especulavam sobre as chances diminutas de defender seu título com êxito. Nas bolsas de apostas, cada vez mais, escolher Ding prometia um retorno compensador.


Imagem de Azores News.



Vieram as disputas e Ding surpreendeu o mundo com uma vitória na primeira partida, jogando de pretas e optando por uma defesa pouco ambiciosa, a francesa. Esta partida foi o sinal de que talvez o mundo estivesse errado. Talvez o chinês estivesse escondendo o jogo. As partidas seguintes mostraram que a preparação de Gukesh era mais sólida - preparação em xadrez é todo um trabalho de equipe em que os jogadores imaginam a partida seguinte, deixando prontos antecipadamente vários lances. Uma boa preparação confere ao jogador grande tranquilidade e uma significativa vantagem no tempo. Enquanto Gukesh tinha uma poderosa equipe de apoio, a preparação de Ding ficava apenas com seu amigo Richard Rapport, um GM húngaro.


Se a preparação de Ding funcionou na partida 1, depois não foi bem assim. Ding sempre estava atrás no relógio - as partidas tinham 1 hora e trinta minutos de duração, com um acréscimo de meia hora depois do 40º lance - e demonstrava muita preocupação em diversos lances do adversário.


O que se seguiu foi épico. Gukesh empatou na partida 3. Os jogadores empataram as sete partidas consecutivas. Gukesh venceu a partida 11 apenas para ver Ding vencer novamente na partida 12. Um empate na 13 e tudo ficou para a partida 14. Se houvesse empate iriam para disputas rápidas, em partidas de apenas 30 minutos. Ding seria considerado favorito neste modelo de partida, mas a preparação de Gukesh poderia levá-lo à vitória.


Entretanto, como nos grandes filmes de disputas, tudo se resolveu na partida final. Um jogo extremamente equilibrado onde Ding procurava forçar o empate - talvez imaginando que seria feliz nas partidas rápidas. E Gukesh evitando o empate, tentando resolver tudo neste 14º match. Ao final, com poucas peças na mesa, Ding comete um erro grave, um blunder ( uma gafe, um erro grosseiro em xadrez ). Gukesh percebe o erro e aproveita a oportunidade. Ding aperta a mão de seu adversário e desiste da partida. Gukesh, o mais novo campeão da história do xadrez, vai às lágrimas.

O epílogo do filme, vem na entrevista coletiva ao final do torneio. Ding está evidentemente abalado, mas ao mesmo tempo um pouco aliviado. O mundo talvez jamais saiba o que se passou com ele, o que precisou enfrentar para defender seu título numa luta digna. Concede uma entrevista tímida, quase protocolar e, quando se retira, é aplaudido em pé por todos presentes. Gukesh, como um bom campeão de filme, elogia seu adversário, valoriza sua luta e afirma que Ding é sem dúvida um verdadeiro campeão.


The End.



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