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Foto do escritorManuel Rosa de Almeida

INVEJA, PAIXÃO E VAIDADE

O homem pode pagar um alto preço pela paixão.


Imagem de Steveofstonehenge por Pixabay

Catedral de Notre-Dame, palco de muitas aulas de Pedro Abelardo

Pedro Abelardo foi um filósofo que viveu nos Séculos XI e XII. Transitando na escolástica, Abelardo foi um pensador poderoso e extremamente respeitado em seu tempo. Desenvolveu o conceitualismo, pensamento que não se situa exatamente nem entre os materialistas, nem entre os idealistas. Suas ideias conferiram certa independência à lógica, na medida em que valorizava muito a dialética como único caminho para a verdade. Entendia que tudo e todos podiam ser contestados, porque poderiam estar errados, exceto as sagradas escrituras. Desta forma, encorajou em muito o pensamento livre. Isto foi, em meio à Idade Média, revolucionário.


Abelardo dedicou-se a ensinar. Sua escola logo ganhou fama, sobretudo pela maneira que interpretava as escrituras. Ao mesmo tempo em que a fama lhe granjeava mais alunos e recursos, também assegurava campo fértil para a inveja. Abelardo envolveu-se em muitos enfrentamentos com antigos mestres, confrontando suas ideias. O mundo destes pensadores e professores medievais não era isento de vaidade e de inveja. Abelardo mesmo, era extremamente vaidoso no que toca à sua própria contribuição ao pensamento filosófico.


Como a inveja é avessa ao conformismo e o brilho do rival incita o invejoso a agir contra ele, Abelardo enfrentou, inúmeras vezes, perseguições da parte de outros pensadores/professores. O melhor meio de solapar a vida de um rival era acusá-lo de heresia, acusação que Abelardo enfrentou por duas vezes pela sua interpretação da Santíssima Trindade. Numa delas foi, inclusive, obrigado a queimar um de seus livros.


Em outras tribulações sofreu perseguição de colegas monges, por condenar a vida dissipada que levavam. Abelardo chegou a afirmar que por duas vezes atentaram contra sua vida: uma por envenenamento, outra por meio de um asssassino contratado. Desta ameaça apenas salvou-se pela presença de um homem de armas que, em combate, defendeu sua vida.


Hoje, contudo, Pedro Abelardo é mundialmente conhecido por outra razão: seu amor por Heloísa de Argentuil. Um amor que resultou em desgraça. Abelardo havia sido contratado como preceptor de Heloísa, pelo tio da moça, o cônego Fulberto, que muito se empenhava em sua educação. Heloísa era uma jovem bonita e inteligente, muito acima da média. O tio tinha adoração por ela e empenhava-se em seu desenvolvimento. Como Abelardo supostamente levava uma vida casta, o tio inocentemente permitiu que ele frenquentasse sua casa para educá-la. Ali os estudos deram lugar à paixão, uma relação avassaladora que resultou em gravidez. Abelardo então raptou a jovem e levou-a para sua região natal, onde ela teve um filho, Astrolábio. Abelardo propôs à Heloísa casamento e a cerimônia realizou-se secretamente.


Entretanto, buscando resolver sua situação, Abelardo entrou em contato com o tio, propondo um acordo. O cônego Fulberto simulou concordância para melhor engendrar sua vingança. Com o auxílio de um servo de Abelardo, parentes de Fulberto atacaram Abelardo e o castraram. Aquilo que Abelardo chamou da chaga de corpo e alma causou-lhe profunda dor e vergonha. A partir de então, ele e Heloísa dedicaram-se à vida monástica, mas corresponderam-se regularmente até o fim de suas vidas.


Abelardo registrou suas tribulações na obra A História das Calamidades de Pedro Abelardo. O cinema imortalizou o amor de Abelardo e Heloísa no filme Stealing Heaven ( lançado no Brasil com o nome de Em nome de Deus ), filme de Clive Donner de 1988.


Lógica para Principiantes/A História das Calamidades de Pedro Abelardo - Coleção Os Pensadores, Vol. VII - Editora Victor Civita - 1ª Edição 1971.


Stealing Heaven, 1988, Inglaterra/Jugoslávia, 115 minutos.

Direção: Clive Donner

Elenco: Derek de Lint ( Abelardo ), Kim Thomson ( Heloísa ), Denholm Elliott ( Fulberto ).


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