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Foto do escritorHatsuo Fukuda

LEAVE THE GUN, TAKE THE CANNOLI

Sonny, o filho mais dotado de Don Vito Corleone, morreu.

Imagem de primevideo.com


Charlie Bluhdorn, o todo poderoso Chefão da Gulf+Western, um judeu austríaco que havia vindo para os Estados Unidos com uma mão atrás e outra na frente durante a Guerra (em 1942) e era o protótipo do self-made-man do sonho americano, havia adquirido o falido estúdio Paramount Pictures farejando um bom negócio. Ele era especialista em ganhar dinheiro com empresas problemáticas. Ele chamou Bob Evans, um jovem bonitão, sortudo, inteligente, e, como ele, bom para negócios (tinha uma empresa de roupas femininas), mas que nunca tinha produzido um filme na vida. Ele o escalou para chefiar a produção da Paramount, dizendo: “Faça filmes que as pessoas queiram ver, não a porcaria que pessoas não entendem.” E acrescentou: “Eu quero ver lágrimas, risadas, garotas bonitas – filmes que pessoas em Kansas City queiram ver.

Risadas? The Odd Couple (Um Estranho Casal, 1968), com Jack Lemmon e Walter Matthau. Vamos assustar as pessoas em Kansas City? O Bebê de Rosemary, 1968) de Roman Polanski, com Mia Farrow e John Cassavetes. Lágrimas? Dê-lhe Love Story (1970). Multidões lotaram os cinemas no mundo inteiro para chorar com Ali MacGraw e Ryan O’Neal. Os filmes se transformavam em dinheiro, e de bônus, os críticos gostavam. Bob Evans, desacreditado pelos experts, fez a Paramount ver a luz no fim do túnel.


E, naturalmente, o filme que tirou a Paramount definitivamente do buraco, e abriu uma nova avenida em Hollywood, de onde ela pode sair para outros voos, depois dos desastres dos anos 60, The Godfather (1972).

O imaginário do cinéfilo e dos ratos de cinema está pontilhado de frases memoráveis e cenas prodigiosas dos três Godfather. Acho que não conheço ninguém que não tenha assistido o filme (para mim é um único filme) várias vezes (sem contar aqueles que assistiram dezenas de vezes). Graças ao videocassete, antes, e agora os DVDs e Blu-Rays, e o onipresente streaming, as cenas podem ser repetidas interminavelmente, para alegria das ratazanas viciadas.


I’m gonna make him an offer he can’t refuse.”, proferida por Vito Corleone, é a número 2 das 100 frases do American Film Institute. Entrou na lista, também, a “Keep your friends close, but your enemies closer.” (número 58).


Há muitas outras. Ótimo é o diálogo de Michael e sua noiva WASP, Kay Adams: “Meu pai é como todo homem poderoso, um senador, um presidente” E a resposta de Kay: “Não seja ingênuo, Michael. Eles não matam pessoas.”. E a réplica: “Quem está sendo ingênua, Kay?”. Sempre atual, particularmente nesta parte miserável da América. Ou Michael dizendo para seu sobrinho Vincent (filho bastardo de Sonny): “Eu não preciso de gangsters, preciso de advogados.” Ou de Connie (Talia Shire) murmurando emocionada enquanto observava o padrinho comendo cannolis envenenados por ela mesma: “Durma, padrinho, durma.” Ao som da Cavalleria Rusticana.


Cannolis, aliás, que fazem sua aparição já no primeiro filme, em que Clemenza executa Paulie, seu protégé, por ter traído o Don. Paulie vai até a casa suburbana onde Clemenza mora, e na saída sua mulher o lembra: “Não esqueça os cannolis.”. Eles param em uma rodovia (ao fundo a Estátua da Liberdade), e Paulie é executado. Clemenza diz para o seu capanga: “Leave the gun”. E, fora do script, acrescentaria: “Take the cannoli”. Richard Castellano, o ator que interpretava Clemenza, havia, sem que ninguém percebesse, acrescentado uma das mais imortais frases do filme. O filme não era sobre gangsters malvados; era sobre famílias, sobre comidas, e a razão do sucesso que fez em todo o mundo, pois ninguém se identifica com gangsters além dos próprios, mas todos se identificam com homens que farão de tudo para levar pasta e cannoli para suas casas.


Brando não memorizava suas falas e precisava de ajuda. Imagem da obra citada ao final.



A morte de James Caan aos 82 anos na semana passada causou consternação a todos que o conheciam. Ele teve uma longa carreira, mas para todos nós, Caan será sempre lembrado como Sonny Corleone, o filho feroz e destemido de Vito Corleone, o irmão mais velho de Michael Corleone, o pai de Vincent.


Sonny era impulsivo e amoroso. Era um notório mulherengo. Amava os seus filhos, a sua mulher, a sua amante Lucy; amava o seu pai, o seu irmão, e tinha pela irmã, Connie, um sentimento de proteção que o irmão mais velho tem pela irmã nova e indefesa.

Em uma das cenas-chave do Poderoso Chefão, seu pai lhe dá uma bronca: “Nunca mostre aos inimigos o que você está pensando.” Seus inimigos sabiam que a irmã era o seu ponto fraco, e isso levou à sua morte trágica, em uma das cenas espetaculares de Godfather.

Ele, desde o início, era uma das escolhas de Coppola para o filme. Coppola o queria, e travou batalhas ferozes com o estúdio e Bob Evans para impor as suas escolhas: Marlon Brando para o papel do Chefão; Al Pacino para Michael, James Caan para Sonny; Robert Duvall para Tom Hagen, e Diane Keaton para Kay Adams. Brando, no final dos anos 60, estava no ostracismo. Pacino era um ator de teatro e um ilustre desconhecido, assim como Keaton. Mas a sorte e a persistência de Coppola acabaram vencendo, e todos eles se transformaram em estrelas. Brando, só para lembrar, depois desse filme fez O Último Tango em Paris, com Bernardo Bertolucci, e Apocalypse Now, com o próprio Coppola. Sua carreira renasceu.


Logo no início das filmagens, Caan e Duvall estavam em um carro, e viram Brando ao lado. Duvall disse: “Mostre a bunda para ele.”. Caan baixou os vidros e mostrou a bunda para Brando, que se matou de rir. Em outro momento, durante a filmagem da cena em que Luca Brasi (Lennny Montana) contracena com Don Vito Corleone, durante o casamento de Connie, Lenny, um ator inexperiente, estava tenso.

Coppola disse para Caan: “Faça ele relaxar. Faça alguma coisa.” Caan chamou Lenny para um canto, e disse: “Quando estiver falando, mostre a língua para ele.” Na língua, grudou uma fita com a frase: “Fuck you”. Brando se torceu de dar risada. O set inteiro relaxou, Lenny relaxou, a filmagem prosseguiu. No dia seguinte, Brando se encontrou com Lenny, e mostrou a língua: “Fuck you too”. Foi divertido. Foi épico. Foi cinematográfico.

Adeus, Jimmy. Onde quer que você esteja, lá estará nosso coração.


The Godfather I foi indicado para 11 Oscars. Ganhou melhor filme, melhor ator para Brando, melhor roteiro adaptado para Coppola e Mario Puzo. Incrível foi terem sido nomeados, para o prêmio de melhor ator coadjuvante o trio Duvall, Caan, Pacino. Joel Grey, de Cabaret, deixou os três a ver navios. Cabaret abocanhou oito prêmios. Godfather I está em segundo na lista do American Film Institute. Godfather II está em 32º lugar. A terceira parte não entrou na lista. Leave the gun, take the cannoli, é o título do livro de Mark Seal de onde retirei a maioria das histórias. Há muitas mais, para delícia dos fãs. Na Amazon Books com um click. A trilogia está disponível na HBO Max e outros streamings.”


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