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MAESTRO


O que faltou a este filme é inacreditável.



Imagem promocional.


Há um curioso paradoxo neste filme lançado recentemente pela Netflix. Trataremos dele adiante. Maestro é um filme sobre a vida de Leonard Bernstein, considerado o maior maestro norte-americano. Assim, o filme aborda lateralmente a dificuldade que um judeu poderia ter para ascender na carreira, trata da relação de Bernstein com seus filhos e expõe, de maneira pouco sutil, as conquistas que obteve em sua profissão ( um jornalista que o entrevista cita vários pontos altos de sua carreira ). Tudo isso an passant. O verdadeiro foco do filme está na relação de Bernstein com sua esposa e a maneira como lida com sua bissexualidade.


Em determinado trecho do filme Leonard afirma que gosta de pessoas. Essa frase justificaria, se é que alguém precisa justificar seu comportamento, a promiscuidade do maestro. Embora mantendo a relação familiar intacta, o personagem salta de um relacionamento homossexual para outro com facilidade. A esposa está ciente e aceita, até o esgotamento e uma crise.


Um fato curioso no filme é que, aparentemente, foi patrocinado pela indústria do tabaco. De fato, é muito difícil uma cena, uma só que seja, em que os protagonistas não estejam fumando como chaminés. Desta forma, a esposa de Bernstein só podia ser uma fumante inveterada, já que, inúmeras vezes, ele lança baforadas em sua cara enquanto trocam frases íntimas ou pretensamente intelectuais. Tudo bem, entendo. Nos anos 70 e 80 o cigarro estava bombando e é necessário adequar o filme à sua época. Mas que exagero!


Bradley Cooper encarna Leonard Bernstein e atua maravilhosamente bem. A direção também está com ele e, igualmente merece palmas. As escolha dos sets e tomadas realmente chama a atenção, sem contar as inúmeras mensagens subliminares que povoam o filme. Carey Mulligan, que faz o papel de Felícia, a esposa de Bernstein, não fica atrás. Ambos estão ótimos.


O roteiro é muito bom, ainda que, vez por outra, derrape num intelectualismo forçado. Alguns diálogos não soam verossímeis ou são, ao menos, algo pretensiosos, pelo afã dos roteiristas colocarem pitadas de pensamento sofisticado. Coadjuvantes, figurino, produção, tudo funciona muito bem.


Agora, o paradoxo. O filme é realmente bom, possue passagens excelentes e tocantes que nos emocionariam até as lágrimas se... houvesse uma trilha sonora adequada. Mas, eis o paradoxo, a trilha toda é de Bernstein! De fato,no cinema, por mais emocionantes que sejam as cenas, o que costuma romper as represas do pranto na plateia é a trilha sonora. Se este mesmo filme tivesse uma trilha sonora assinada por Morricone faltariam lencinhos ( como diz nosso colunista de cinema favorito, Hatsuo Fukuda ).


Bernstein foi, indiscutivelmente, um grande maestro, talvez o maior maestro norte-americano. Mas sua música, por mais técnica e sofisticada que seja, não tem alma. Não toca o coração. A alma da música é a melodia, algo em que Morricone foi mestre insuperável. Ao maestro, simplesmente falta isso, a capacidade de compor boas melodias. Mesmo sua obra prima, reproduzida em determinado trecho do filme, embora grandiosa e perfeita do ponto de vista técnico, não toca a alma. Aí também a única derrapada de Cooper no papel do maestro. Sua regência do concerto na catedral estava fora do compasso, ainda que ele tenha estudado, clara e profundamente, buscando imitar a performance de Bernstein.


Certamente muitos torcerão o nariz a estes comentários e acusarão a falta de conhecimento em teoria musical do comentarista. Mas sustento: é paradoxal que um filme sobre o maior maestro norte-americano tenha na trilha sonora seu ponto mais fraco.


Maestro - 2023, 129 minutos, Netflix.

Gênero: Drama, biografia.

Direção: Bradley Cooper.

Elenco: Bradley Cooper, Carey Mulligan e bom elenco de coadjuvantes.

Roteiro: Bradley Cooper e Josh Singer.

Adjetivos: Inteligente, original, diferente.

Recomendação: Para pessoas mais sofisticadas, especialmente se gostarem de música.

Nota: 7


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