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Foto do escritorHatsuo Fukuda

MEU AMIGO ERASMO CARLOS

Jovens tardes de domingo, tantas alegrias

Velhos tempos, belos dias

Aquelas tardes de guitarras

Sonhos e emoções


Fonte: Pop line


Ruy Castro, em seu artigo na Folha de São Paulo, lembra uma entrevista que ele deu à revista Playboy. Erasmo contou que havia duas pessoas que ele nunca cansava de ouvir: Elvis Presley e João Gilberto. Elvis, ok. Era de se esperar de um dos reis do rock nativo, que começou sob a sua influência. Mas João Gilberto? O ícone da música popular brasileira, o rei do som intimista, era uma das grandes influências daquele jovem barulhento?

Barulho. Era assim que os velhos se referiam ao rock and roll.


Cinco dias antes de morrer ele havia ganho o Grammy Latino pelo disco O Futuro Pertence à Jovem Guarda, com canções bobinhas dos anos 60, embaladas em um formato roqueiro. Vejam Tijolinho:


Você é meu amorzinho

Você é meu amorzão

Você é o tijolinho

Que faltava na minha construção


Talvez haja alguma coisa aí. Talvez aquele roquinho tolo do início dos anos 60 tivesse algo a dizer, afinal. Um tijolinho.


E que tijolinho, esse. Sobreviveu a mais de quarenta anos, e, como toda grande obra, recebeu sucessivas leituras pelos ouvintes de várias gerações.

O rock, fruto do sincretismo racial, cultural e religioso, transcende em muito o imediatismo da revolta juvenil em um país racista. Suas raízes estão nos genes originários da humanidade. Nada mais semelhante a uma festa tribal quanto um Rock in Rio ou um Woodstock. E como tal, seu apelo transcende fronteiras – todas elas. Depois da explosão roqueira, todas as músicas populares nacionais passaram a enfrentar um dilema: ou incorpora ou morre. Não por acaso, aqueles puristas brasileiros dos anos 60, adeptos de um nacionalismo doentio (chegaram a fazer passeatas contra as guitarras elétricas) foram, quase todos, esquecidos. Transformaram-se em estátuas de sal. Eles não sabiam da ordem divina de não olhar para trás.


Mas e João Gilberto? O maior ídolo das estátuas de sal era também um ídolo do jovem barulhento? João veio da música popular dos anos 40 e 50, aquela canção despretensiosa (alguns diriam alienada, não tivesse a aura santa da canção raiz). E como todo músico popular, não tinha preconceitos (chegou a fazer um comercial da Brahma, aliás, maravilhoso), ao contrário dos preconceituosos puristas. Levado pelo instinto, ele fez uma revolução na estagnada canção brasileira dos anos 50, poluída por bolerões mal arranjados e mal cantados. Depois dele, nunca mais a música brasileira foi a mesma.

Revolução, eis o elo entre rock e João.


Trabalhar na tradição mais profunda, eis o outro.


Obrigado, Erasmo, por mais um tijolinho nesta construção.


O comercial da Brahma Chopp cantado por João Gilberto está no Youtube. Defeito mortal: é muito curto. Elvis, como sabem todos os seus fãs, não morreu. E era negro. Detalhes com os MIB, que guardam os segredos da galáxia. Logo descobriremos que Erasmo e Roberto Carlos são um único ser, amalgamados no tempo e espaço, mas vivendo vidas paralelas no Planeta Terra. Além de O Futuro Pertence à Jovem Guarda, vale a penas ouvir Os Meus Lados B. É uma prova que não existe lado B na vida e na criação. Não sei se choro por ele ou por mim mesmo.


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