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Foto do escritorHatsuo Fukuda

MISTÉRIO EM PLATÔNIA

Uma aventura do delegado Plínio.


Imagem feita com IA por Canva.




4. MORTE NA PRAÇA


Toda a população de Platônia resolvera apreciar o espetáculo.


A Praça da República, onde ficava a The New Look of the Year, estava lotada, apesar de serem apenas 9 horas da manhã de um sábado. Uma multidão se aglomerava na frente da loja, celulares na mão, tirando fotos e falando excitados para as câmeras. Toda a população de Platônia resolvera apreciar o espetáculo. Paulo Mendes, da Rádio Difusora Platonense – a mais querida de Platônia – estava falando sem parar. Alguns blogueiros estavam transmitindo com a vitrine ao fundo. A notícia já tinha sido compartilhada nas redes. O delegado Plínio foi abrindo caminho em meio à multidão. Na frente da ampla vitrine, um homem desacorçoado estava sentado, as costas na parede, as pernas dobradas, indiferente à multidão. Era o gerente da loja, que fora o primeiro a chegar. Sua primeira tarefa do dia, antes de abrir a loja, era levantar a folha de aço da vitrine e da porta da loja.


Na vitrine, um homem vestido com um terno azul marinho, de corte justo, usando sapatos marrons esportivos e uma camiseta branca, estava escarrapachado em uma cadeira de praia, braços pendentes, o rosto estraçalhado por um tiro. A camiseta e o paletó estavam empapados de sangue. Três modelos femininos de biquini, sarongue, blusinhas coloridas e grandes bonés de sol o cercavam, com os olhos vazios fixos em seu peito. Uma grande mancha de sangue tinha escorrido para o chão, compondo a cena. Ele deveria ter 50 e poucos anos, um início de calvície, os cabelos desgrenhados se misturando ao sangue e pedaços de carne e cérebro do rosto destruído. Havia cinco furos de bala no peito, como no caso do Dr. Maneco. Os curiosos já tinham identificado o morto: Marcos, o proprietário da The New Look of the Year. Bons fisionomistas. Mas Marcos estava em casa, e era famoso pela elegância. Era o melhor garoto-propaganda de sua loja.


A Polícia Militar chegou e começou a afastar a multidão. O delegado entrou, acompanhado do investigador Leonardo, ambos com as armas engatilhadas na mão, um reflexo automático do treinamento da escola de polícia. Era uma loja grande, com espaços para moda feminina, masculina e infantil, decorado com espelhos por todos os lados, balcões e araras com roupas. Aqui e ali cestas com roupas em oferta. O ar abafado da loja estava impregnado do enjoativo cheiro de sangue. O delegado Plínio e o investigador Leonardo percorreram lentamente a loja, acompanhando a trilha de sangue que começava na vitrine e terminava no escritório, onde o morto deveria estar trabalhando e onde fora morto. Gavetas abertas e reviradas, papéis e fotos espalhadas pelo chão do escritório, mostravam ter havido uma busca frenética no local. Um cofre de parede estava escancarado, vazio. Maços de dólares jogados no chão mostravam que o objetivo não tinha sido roubo. Uma porta dava para a rua lateral. Quem fizera o serviço ao sair fechara a porta. Ou talvez o morto tivesse dado seis tiros em si mesmo e a seguir fora descansar na vitrine. Nada estava descartado.


***


Uma equipe da Globo de Cascavel tinha vindo a Platônia e estava entrevistando populares para o jornal do meio-dia. À noite eles entrariam ao vivo no Jornal Nacional. O apresentador Ratinho tinha mostrado vídeos em seu programa, mostrando ao mesmo tempo um ar perplexo, compungido e indignado. Ele exigia providências, no modo de caboclo exaltado de Jandaia do Sul. Maneco era seu amigo, um homem bom, e lágrimas vinham aos olhos. Um outro, Datena, também não teve papas na língua. Um serial killer estava solto em Platônia, dizia com ar indignado. Paulo Gomes, em seu programa diário (ele também devia ter conhecido o Dr. Maneco), mostrava um olhar também preocupado. Os vídeos do Youtube mostrando o morto na praça escalaram para o primeiro lugar no top trending no Brasil. Estava também em primeiro no X e no WhatsApp.


***


Ele observou o aviãozinho taxiar no pequeno aeroporto de Platônia. Uma equipe da técnicos da Polícia Científica de Curitiba estava chegando para examinar o local do crime. O mesmo avião levaria os cadáveres para serem examinados pela perícia médica. O Dr. Plínio iria junto. Ele teria preferido acompanhar os trabalhos no local das mortes, mas o Diretor Geral o chamara para conversas. Ele iria, contrariado, mas a viagem não seria em vão.





Esta é uma obra de ficção. Os leitores desavisados que se dispuserem a ler (por sua própria conta e risco) estejam advertidos que este Blog não se responsabiliza pelos desatinos do autor. Este suposto romance será publicado em capítulos toda terça-feira. Qualquer semelhança com fatos e pessoas é mera coincidência e não poderá ser imputado ao blog qualquer responsabilidade. A publicação poderá ser interrompida a qualquer momento, caso o autor morra, se suicide ou seja internado por insanidade mental. (Nota do Editor).


Se você deseja reler os capítulos anteriores, a obra completa - até onde foi aqui publicada - estará entre os posts já publicados, bastando você rolar a tela para encontrá-la.




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