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Foto do escritorManuel Rosa de Almeida

NAPOLEÃO

Recomendação de leitura


Entenda o homem em suas múltiplas facetas.


Há biografias que são panegíricos; há biografias que são romances; há biografias que são estudos históricos sérios e consistentes. Napoleão - O Homem por trás do Mito, de Adam Zamoyski, situa-se certamente entre estas últimas. De fato, o trabalho de pesquisa em torno desta obra é impressionante. A bibliografia, de inúmeras páginas, cita mais de trezentas fontes, entre arquivos de acesso restrito, correspondências, diários, livros publicados e obras de pesquisa. Ter estudado com tal afinco implica que Zamoyski sabe sobre o que está falando.


Muitas vezes, dispor de um acervo de informações desta dimensão pode, paradoxalmente, comprometer a qualidade da obra. O autor deve ter o cuidado e a sensibilidade de selecionar tamanho volume de informações e dispor delas coerentemente, de forma agradável, ao longo da obra. Não pode se enredar nas teias de tanto assunto e virar alimento para esta imensa aranha que é o fastio. Por exemplo: há dezenas de obras sobre as batalhas em que Napoleão se envolveu, descrevendo a ação das tropas, oferecendo diagramas, apontando falhas táticas, hesitações de comando, etc. Embora Zamoyski tenha mergulhado nestas obras em suas pesquisas, optou por descrever as batalhas em linha geral, fugindo a um certo mecanicismo opressor dos relatórios meramente militares.


O que o autor fez foi dosar as múltiplas facetas de Napoleão, mantendo um equilíbrio em que o homem não perde sua identidade. Claro, Napoleão foi um general brilhante - sua faceta mais importante - mas não foi somente isso. Foi político, chefe de família, jovem ambicioso, nacionalista, admirador das artes e ciências, um ser inseguro, etc. Zamoyski reúne e explica todos estes personagens em um texto agradável, seguro, despretensioso, que certamente vai agradar a maior parte dos leitores.


Assim, finalmente você conhecerá Napoleão, para além do cavalo branco e da mão dentro do uniforme. Como, afinal, um obscuro militar corso virou Imperador da França? Como tornou-se Imperador depois de uma sanguinária revolução que pretendeu afastar de vez os reis, o clero e a nobreza? Como o brilhante general - por meio de sucessivas vitórias militares - tornou-se verdadeiramente senhor da Europa continental?


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Não há uma resposta apenas para estas perguntas. Trata-se de uma série de circunstâncias, uma conjunção única de fatos, o destino… Você decidirá ao final do último capítulo. É certo que o general Bonaparte é peça central. Afinal, até a campanha russa de 1812, Napoleão emplacou uma série praticamente invicta de vitórias, mais de quinze anos de sucesso militar que o levaram a dominar a maior parte da Europa continental e tornar-se, efetivamente, o homem mais poderoso do mundo.


Mas o general era um homem e, como tal, caiu nas seduções do mundo. Fez-se Imperador, restabelecendo um regime contra o qual tinha lutado na juventude. Tornou-se refém de seu orgulho e excessiva confiança. Dominou outros reinos e colocou seus irmãos como reis obedientes à França e a ele. Enfrentou a Inglaterra, buscando estrangulá-la comercialmente, fechando os portos da Europa aos seus navios. Seduziu, ameaçou, comprou, negociou, guerreou, oprimiu.


Entre erros e acertos, dominou a Europa. Mas Napoleão acreditava firmemente que seu poder se assentava sobre o mito do general vitorioso. Então, praticamente, não podia abandonar a guerra. Necessitava de vitórias militares para legitimar seu poder. E continuar a lutar e vencer para seguir legitimado. Esta equivocada percepção foi seu maior erro. Quando talvez pudesse assegurar a paz e manter a França em prosperidade, apostou em novas vitórias no campo de batalha. Depois de 1812, contudo, o general brilhante tinha envelhecido, tornou-se hesitante. E perdeu, no campo de batalha, tudo que conquistara no campo de batalha.


Há o exílio em Elba, o governo dos 100 dias ( que foram mais de cem ), Waterloo e, finalmente, a humilhação em Santa Helena. Permeando tudo, a diplomacia, os camaradas de armas, os ministros, as intrigas, Josefina, relações familiares, o povo francês. Tudo contado com precisão histórica e talento.


Napoleão - O Homem por trás do Mito - Adam Zamoyski, Editora Planeta do Brasil Ltda, 2018, 708 páginas.

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