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Foto do escritorHatsuo Fukuda

NEGÓCIO DA CHINA


O presidente Lula foi obrigado a cancelar a viagem para a China. Mas os empresários agrícolas lá estão, tentando fazer os negócios que o ex-presidente não permitiu fazer. Poderiam trazer também um pouco da sabedoria chinesa.


Imagem de Portal Agro 2


Assim se chamava, antigamente, um ótimo negócio, uma pechincha. Hoje, com as Shein, Ali Express e outras menos votadas, a expressão readquiriu o significado. A China, que durante muitos anos, em função das guerras e do período maoísta (cem anos de desordem), havia deixado de ser um grande negócio, voltou ao mercado mundial. É muito bom comprar na China. Melhor ainda vender para a China. A viagem do Presidente e sua comitiva (no momento em que escrevo uma pneumonia leve o fez cancelar a viagem), realça a importância do país para o Brasil. Além de um grande número de políticos, mais de duzentos empresários estão na comitiva empresarial. Afinal, é o maior parceiro comercial do Brasil, superando os Estados Unidos, tradicionalmente o nosso maior parceiro, econômico e político.


Leio nos jornais que os empresários do agronegócio estão em maioria na comitiva. Suponho que os paranaenses estejam representados. Afinal, o Paraná é um dos maiores produtores de soja e carne do país. Não vamos tripudiar sobre os empresários bolsonaristas que lá foram (já estão em Pequim, acompanhando o ministro da Agricultura, que partiu antes). Nem contra aqueles que vociferavam (alguns ainda vociferam) contra o comunismo chinês (que piada). Como sempre, business as usual. Ou, como diziam os romanos, pecunia non olet (o dinheiro não tem cheiro).

Mas a terra ainda gira.

No Brasil não fizemos a revolução econômica que Deng Hsiao Ping promoveu na China, a partir dos anos 80, mas nestes cinquenta anos, a Terra dos Papagaios fez uma revolução agrícola que a transformou em um dos celeiros do mundo. Os agricultores e pecuaristas literalmente salvaram a pátria (de verdade). Sem esta agricultura moderna e altamente produtiva, o Brasil ainda estaria importando alimentos (acredite se quiser: o Brasil, antes desta revolução agrícola, importava alimentos). Graças à Embrapa, Emater (no Paraná) e outros entes, mais a capacidade de trabalho da turma, a agricultura brasileira deixou de ser atividade do Jeca Tatu e se transformou no setor dinâmico da economia brasileira. E esta turma foi em bando para a China, e com isso trará dinheiro e empregos para um país necessitado.


Não vejo nos jornais nada sobre professores, artistas e intelectuais na comitiva. Isto é lamentável. O desenvolvimento chinês atual foi fruto da retomada da antiga tradição chinesa, de mais de dois mil anos, em que se combinou forte ação estatal (não confunda estatal chinesa com as brasileiras) com o empreendedorismo e a capacidade de trabalho da população. Mas isso tudo sempre se alicerçou em um pensamento que tem dois mil e quinhentos anos (mesmo o período maoísta, que permaneceu trinta anos no poder, sofreu sua influência): o de Confúcio, principalmente, mas não só. Sem Confúcio não haveria China (assim como sem Jesus Cristo não haveria Ocidente). O pensamento confuciano foi a base da sociedade chinesa (e as demais que estavam sob a sua órbita, como a coreana). A comitiva brasileira, obtusamente, vai à China atrás de dinheiro, quando o maior tesouro lá existente é a sua cultura.



Imagem de Jornal O Farol

Já falei aqui sobre o Romance dos Três Reinos, clássico da literatura chinesa, que justificou – para Mao Zedong e Zu En Lai – a aproximação com o arquiinimigo americano (em plena guerra do Vietnã). Essa sacada diplomática marcou o início de 50 anos de crescimento chinês e prosperidade na Ásia e no mundo. A agricultura brasileira não estaria tão rica não fosse esta abertura política e diplomática.

Os políticos e empresários brasileiros, que costumam ter como horizonte mental apenas as próximas eleições, tem muito a aprender com a China. Tenho certeza que isso acontecerá, nos próximos dois mil anos. Até lá, vamos torcer para que a viagem traga frutos.


O velho Confúcio, como todo profeta, não foi bem acolhido por seus contemporâneos. Só depois de sua morte seus ensinamentos se disseminaram pelo país e, finalmente, tornaram-se um guia para os governantes. A vasta burocracia chinesa, que efetivamente governava o país, passou a ser recrutada com base em seus pensamentos, com concursos locais, regionais e nacionais que selecionavam os melhores (desde 140 AC até o século XIX, quase ininterruptamente). Esta burocracia chinesa, hoje, está no Partido Comunista. Mas não se enganem: a tradição permeia toda as decisões e discurseiras marxista-leninistas. E todos tem em mente a lição de Deng: não importa a cor do gato, interessa que cace ratos.

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