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O BEM E O MAL PRESENTES NO CAOS


O ser humano se revela em situações extremas.


Imagem de Brasil Escola - UOL


Em tempos de crise, em guerras, catástrofes naturais, convulsões sociais ou epidemias, a humanidade apresenta suas faces opostas, os extremos que estão presentes na natureza humana. Sempre foi assim, desde que o homem corre pela face da terra, na antiguidade quando caia uma cidade fortificada ou no presente na Faixa de Gasa. Em momentos extremos, o homem mostrará caridade, empatia, solidariedade e benevolência. Em momentos extremos, o homem mostrará seu lado abutre, sua sanha de rapina, sua absoluta insensibilidade, sua fraqueza diante da força dos instintos.


Na Ucrânia, em meio a cidades bombardeadas, desprovidas de energia e mantimentos, uma ação internacional de solidariedade se faz sentir. Dos quatro cantos do globo vem o socorro, seja em ajuda financeira, seja em mantimentos, seja no voluntariado de pessoas que se deslocam para a zona de guerra. De outra parte, populações são massacradas, soldados brutalizados estupram civis, crianças são afastadas de suas famílias.


Na Faixa de Gasa os extremos atingem o paroxismo: cidades foram simplesmente obliteradas, cobrindo homens, mulheres e crianças por toneladas de entulho e ruínas, pessoas são submetidas à fome, à falta de tratamento de saúde, outros tantos são sumariamente executados. Ao lado disso, forças de socorro internacional submetem-se ao risco de morte ( e muitos, efetivamente, já morreram ) para levar o mínimo indispensável à sobrevivência da população.


Em nosso país, o Rio Grande do Sul enfrenta uma catástrofe natural jamais vista. Aproximadamente 90% dos municípios gaúchos foram seriamente afetados. Há milhares de desabrigados e pessoas desamparadas enquanto as águas recusam-se a recuar. Em meio ao caos causados pela falta de acesso, de água potável e energia elétrica, também aqui a humanidade mostra sua dupla face. Há os que aproveitam a desordem para o saque, o estupro e o roubo. Há os que se esforçam para minorar o sofrimento alheio. Um médico capixaba deslocou-se até o Rio Grande do Sul para prestar seus serviços como voluntário e faleceu vitimado por um enfarte num centro de acolhimento. Ao mesmo tempo, bandidos eram presos em flagrante arrombando casas abandonadas. Empresários que só utilizaram seus jet skis no lazer em praias de gente sofisticada, agora conduzem suas motos aquáticas na água contaminada para prestar socorro. Ao mesmo tempo há pessoas cobrando caro para uma carona de barco.


Na desordem, no desastre, o ser humano se revela: alguns descobrem dentro de si o desejo de ajudar o próximo. Outros deixam aflorar tudo o que tem de mal. Quanto maior o caos, quanto menor a capacidade das instituições assegurarem um mínimo de normalidade, maior será o peso do mal nesta balança. Mas por pior que seja a situação, mesmo quando em tudo que você olhe só haja iniquidade e egoísmo, sempre haverá alguém, anônimo, oculto, buscando ajudar.



Um morador de rua que costuma pedir em minha casa, bateu palmas esses dias em meu portão. Queria uma peça de roupa ou um sapato, pois o que estava usando era apertado. Falei pra ele que, por força do que ocorre no Rio Grande do Sul, não tinha nada para dar, pois havia doado tudo para os gaúchos. Mesmo ele, em sua necessidade, entendeu e não ficou chateado. Com essa sua atitude, de certo modo, também ele fez uma doação aos irmãos necessitados do extremo Sul.

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