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O GRANDE CIRCO AMERICANO



A eleição presidencial pode ser considerado o maior espetáculo da terra.


Imagem de Carta Capital.



A Convenção Nacional Democrata começou ontem, segunda-feira, em Chicago, e seguirá até quinta-feira, com a coroação de Kamala Harris e Tim Walz como candidatos a Presidente e Vice-Presidente dos Estados Unidos. Trata-se de um acontecimento cuidadosamente preparado para impactar a campanha. Nada fica ao acaso. Os oradores – em torno de 150 – foram escolhidos a dedo para passar a mensagem partidária, com os discursos preparados por uma equipe e ensaiados em um teleprompter, com os minutos contados. Os cartazes foram entregues aos participantes da convenção - são trocados até 15 vezes durante o evento – e as ovações e gritos também são controlados pela equipe que dirige o show. Para que haja transmissão ao vivo, negocia-se com as redes a inclusão de personalidades que atraiam o público. Nesta virão os Biden, os Obamas, os Clinton, que se dividirão entre os dias até a entrada em cena de Kamala e Walz, na quinta-feira, quando se encerra o espetáculo.


Nate Silver, um analista famoso pelas suas previsões eleitorais – em 2008 acertou 49 dos cinquenta Estados americanos – e que foi considerado uma das cem personalidades mais influentes do mundo pela revista Time em 2009, é também um jogador de pôquer. E compara as eleições com um jogo de pôquer. Eu, da minha parte, como não tenho nenhum conhecimento de estatística, gosto de comparar as eleições a um espetáculo. E assim como não há nada que se compare a um show da Broadway, também as eleições americanas, e principalmente a eleição presidencial, pode ser considerado o maior espetáculo da terra.


E que espetáculo. Nele se combina a tradição política centenária das eleições primárias, convenções, debates, campanhas de arrecadação de dinheiro e recrutamento de voluntários com uma coreografia minuciosamente planejada para atender as diversas correntes políticas partidárias ou não partidárias, e, last but not least, para servir à voracidade da mídia, ontem jornais escritos, rádios e redes de televisão, hoje, as redes sociais. Este gigantesco aparato cobre os acontecimentos em tempo real e os eventos são planejados em detalhes com vistas à repercussão midiática.


Considere as chamadas telefônicas de Kamala, todas formatadas para atender o público jovem que se conecta a vídeos curtos e bem-humorados, aparentemente casuais, mas feitas para viralizarem em questão de horas. Ou os discursos dos candidatos, idênticos, onde quer que estejam, voltados para atender o público-alvo das campanhas. No caso dos democratas, energizar a base e cativar os indecisos. Trump, que é um grande comunicador, e que tinha o Twitter (hoje X) como seu território incontestado, é uma exceção à regra. Sua comunicação, como a de todo grande líder carismático, é pessoal e intransferível. E sempre funcionou, até agora.


Os candidatos são grandes atores, com uma espetacular capacidade de improvisação e reação em tempo real a acontecimentos inesperados (que aliás não são tão inesperados. Muitas vezes são preparados, em antecipação ao inesperado). Trump, em sua primeira eleição, em 2016, venceu as eleições graças à cobertura da mídia televisiva, uma propaganda gratuita graças ao seu apelo inusitado de bilionário pop star sem papas na língua. Uma atração imperdível. Hillary Clinton, por sua vez, com todo o seu background político, era uma atração sem brilho. Ela ainda estava vivendo no tempo em que as campanhas políticas eram baseadas em cobertura de idéias e discursos racionais, e passou todo tempo desmentindo as fake news produzidas por Trump. Perdeu.


P. T. Barnum, o showman e inventor do moderno espetáculo circense, atraía multidões nos Estados Unidos e na Europa pelas excentricidades que apresentava, como a Sereia de Fiji, um objeto mumificado com a parte superior de animal e a parte inferior de peixe (falso). Ou General Tom Thumb, um anão com um grande talento performático (verdadeiro). Barnum era hábil em inventar atrações. Afinal, era um showman, e enquanto o público estivesse pagando ingressos, estava valendo. Barnum dizia que sem publicidade, nada acontece. Pois é. Eles aprenderam a lição. E dá-lhe publicidade. E dá-lhe vídeos e eventos midiáticos. E monstros, verdadeiros ou falsos. O público agradece, feliz.


Faltam 80 dias para a eleição.



Nate Silver está correto em comparar as eleições a um jogo. Do ponto de vista dos candidatos, corretíssimo. Mas do ponto de vista dos observadores e dos eleitores, não passa de um grande espetáculo. Como todo filme de ação, tem o super-herói e o vilão. Dependendo de seu ponto de vista, o herói será Kamala ou Trump. Não perca o senso de humor, qualquer que seja seu candidato, o filme vale a pena.

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