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ONDE NASCEM AS FLORES



Glória a todas as lutas inglórias/Que através da nossa história/Não esquecemos jamais


Imagem de Portal Vida Livre



Nascem nas raízes, é claro. Sem estas, a explosão das flores, o multifacetado verdejar das florestas, os troncos frondosos, as liamas entrelaçadas intermináveis, o infinito intercâmbio de formas das folhas, tudo o que extasia a humanidade na natureza não existiria. E as flores humanas, donde nascem? Aqueles seres dotados por Deus da capacidade de explorar a profundidade humana, e de lá extrair os elementos essenciais para a produção da beleza que nos extasia e perdura, que são simultaneamente raiz e antena, tronco e galhos e flores, seres dotados pela natureza de ver aquilo que os homens comuns são incapazes de ver, e transformá-las em outra coisa, onde estão suas raízes?


Alguém já disse que eles são antenas cósmicas da raça, captando ondas invisíveis e irradiando-as para nós, meros mortais. Os antigos, temendo a incursão em searas reservadas aos deuses, lançaram a Prometeu a maldição eterna. O fogo da criação não nos pertence, acreditavam. Mas o desafio foi lançado, e geração após geração é renovado; geração após geração alguns pobres humanos levantam os braços e clamam por mais, e o apetite nunca é saciado.


Quando criaram as primeiras locomotivas, alguns realistas disseram que o ser humano não poderia suportar a velocidade que elas produziriam. Catástrofes nos aguardavam na esquina, diziam. Van Gogh era louco, disseram os mesmos realistas, homens pé no chão. Um outro, revolucionário, propunha-se a tomar o céu de assalto. Se não fosse possível, dizia, que pereça o céu, que pereçam todos. Mas isso foi dito na véspera de uma batalha decisiva.


Para aqueles que estão em contato com as fontes da criação, a batalha a ser travada sempre será a última batalha. Seja no amor, seja na arte, seja na ciência, seja na criação de uma nova sociedade. Vale tudo, trata-se de fazer ou morrer, como diz a canção:



“It’s still the same old story/A fight for love and Glory/A case of do or die/The world will Always welcome lovers/As time goes by”



Depois, ora, depois. Virão as consequências, virá o arrependimento, virá o sangue, virá a tragédia, lágrimas em abundância nos lembrarão que somos humanos, demasiado humanos.


Há os que se perderão no imenso labirinto. Serão a maioria, pois muitos serão chamados, e poucos os escolhidos. É tão vasto o universo, e há tanto a ser explorado... Tantas são as belezas, tantas são as maravilhas. E lá ficarão, enlouquecidos sonhadores de um admirável mundo novo. Deles, os burocratas sempre escarnecerão, pobres tolos. Mas seu exemplo fertilizou a terra, e sem a carne e o sangue dos que caíram nos campos as futuras gerações não seriam capazes de enfrentar os seus próprios desafios, e quem sabe vencê-los.


Quem será o próximo a pegar a lança e aceitar o desafio da vida? Trata-se de viver ou morrer. Em algum lugar, um homem e uma mulher se olharam e disseram, silenciosamente: estamos prontos.


O céu os aguarda.



Glória a Aldir Blanc e João Bosco, glória aos Trotskys e Oppenheimers, glória a Van Gogh, glória a todos aqueles que ousaram manter acesa a velha chama.

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