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Foto do escritorHatsuo Fukuda

PASSEANDO NO BOULEVARD


Olhando o mundo pela janela atleticana.


Imagem de Globo Esporte


Vou com amigos atleticanos assistir o jogo Brasil e Camarões no Bar da Janela, no Boulevard do Atlético. É o trecho da Rua Buenos Aires que passa em frente ao estádio do Atlético. De um lado da rua, encostados nas paredes do estádio, os bares lotados com a multidão de atleticanos vestidos de verde e amarelo, com os olhos fixos nos telões; do outro lado, o Bar da Janela. Trata-se de uma janela, por onde se serve a cerveja e se paga a conta. Uma churrasqueirinha na calçada assa os espetinhos. Os fregueses se sentam na calçada, embaixo de uns toldos. O aparelho enfrentava bravamente o sol da tarde, protegido (mas nem tanto) por uma bandeira nacional, mas os fregueses pouco se importavam com a imagem precária. A cerveja era gelada, e nada abalaria o ânimo da torcida, embalada pela expectativa de vitória da seleção.


Leli, o dono da Janela, perguntado sobre comidas, explicou, mostrando a mão esquerda, que não tinha como preparar nada além de uns espetinhos. Ele sofrera um acidente com fogos de artifício (numa comemoração atleticana, claro) e estava economizando para uma prótese artificial. Os espetinhos vieram, e foram devidamente devorados por todos. Segue a vida.


Circulo pelos bares lotados do outro lado da rua. Apesar das camisas amarelas, a mentalidade tribal atleticana se mostra quase sem freios. É um belo espetáculo, a maioria de jovens, homens e mulheres, sentados ou de pé, alguns dançando ao som dos telões, embalados pela música que só eles ouviam.


Um pouco mais adiante, a Praça Afonso Botelho (ou deveríamos assumir de vez o nome Praça do Atlético?), remodelada, está um brinco. Um food truck de pastel atrai alguns fregueses, mas a multidão está concentrada nos bares do boulevard, com fome de bola e gols. E cerveja. A rua e as calçadas estão limpas e alisadas. Não se vêem os habituais buracos e reentrâncias das calçadas, a eterna maldição dos flaneurs curitibanos. E, milagre, não se vêem os tradicionais homeless revirando latas de lixo e pedindo pão aos fregueses. Parece uma cena idílica de novelinha coreana, lembrando aquilo que a Coreia é e o Brasil poderia ter sido.


Mas no Boulevard caminha-se pacificamente no Primeiro Mundo. (Obrigado, Atlético).


Fim de jogo. Perdemos. Mas a torcida não parece desanimada. Por um breve momento a vida fez sentido, e foi bom. A baladinha ao lado da Janela atrai mais e mais fregueses (entrada free). Mulheres devidamente produzidas para a festa se juntam em frente ao palco, onde uma banda anima a plateia. Homens com a testosterona elevada se animam. Bem-vinda noite, com seus sortilégios.

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