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PECAR POR PENSAMENTOS


E quando meu pensamento me faz tropeçar?

Imagem de Psicólogo e Terapia.


Um dos preceitos que recebi de minha educação católica é de que pecamos por atos e pensamentos. Esta ideia não me foi apresentada pelos meus pais, mas pela Igreja, sermão após sermão. Aí pelos dezoito anos deixei de ser católico porque não conseguia resolver as muitas contradições presentes na fé católica ( bem, pelo menos no meu modo de ver as coisas ). Deixei a fé católica de vez e deixei meu pai triste por isso. A ideia de que se peca por pensamentos foi uma das coisas que não me caía muito bem, ao menos não da forma como era apresentada nos púlpitos.


Numa de suas pregações mais relevantes - ( o sermão das bem aventuranças ) - em determinado momento Jesus teria afirmado ( Mateus, 5 - 29/30 ):



Se o teu olho direito de faz tropeçar, arranca-o e lança-o de ti; pois te é melhor que se perca um de seus membros do que seja todo teu corpo lançado no inferno.

E se a tua mão direita de faz tropeçar, corta-a e lança-a de ti; pois te é melhor que se perca um de seus membros do que vá todo teu corpo para o inferno.



E eu, com meus verdes dezoito anos, ficava imaginando... E quando meu pensamento me faz tropeçar, devo arrancar o meu cérebro e lançá-lo de mim? Não fazia o menor sentido, assim como a própria ideia de inferno simplesmente não fazia sentido, já que indiscutível a contradição entre o inferno e um Deus todo amor e misericórdia.


Cá entre nós, pecar por pensamentos é f... Sendo bem sincero, quase confessional, penso que não haja um só dia em que não tenha pecado por pensamento. Pensamentos ruins, ressentimentos, alguma inveja, todas as pequenas misérias que passam pela nossa cabeça como um meteoro súbito e não convidado. Quando você percebe, no céu da sua mente, o meteoro veio, incandesceu e desapareceu... Isso para não falar dos pensamentos lascivos... Se alguém me disser que vive sem jamais ter maus pensamentos, concluiria que há duas opções: a pessoa é santa ou mentirosa. O número de santos é minúsculo, logo...


Tenho convicção de que o diabo não existe. Mas o mal existe. E tem endereço. O mal reside na mente. Um endereço sem CEP mas que todo mundo conhece. A mente não é meramente cérebro. É muito mais que isso. É cérebro perspassado por alma e espírito. E é essencialmente uma ferramenta.


Sempre que uma ferramente funciona mal ou causa um acidente, a culpa não é da ferramenta, mas de quem a maneja. Se o martelo acerta o dedo do carpinteiro, a culpa é do martelo? O homicídio não é culpa do revólver ou da faca, mas do homem que a empunha. Embora a internet seja uma ferramenta admirável, é certo que causa inúmeros danos. Mas a culpa não é da internet e sim de seus milhões de maus usuários. A mente mal utilizada causará danos a você mesmo. E a culpa será apenas sua, pois você maneja a ferramenta.


Este assunto poderia ocupar as páginas de um livro. Vários livros. O que gostaria de assentar nestas breves linhas é apenas isso: claro que podemos errar ( pecar ) por pensamentos. Contudo o ser humano em geral, o comum dos homens, está muito despreparado para manejar esta poderosíssima ferramenta. Ferramenta cheia de possibilidades e, como disse, onde o mal reside, tanto quanto o bem. A simplicidade com que a Igreja trata a questão está longe de sequer sugerir um caminho. Mas é certo que o homem pode usar bem a ferramenta da mente, selecionando seus pensamentos e afastando os meteoros do mal que nos habita. Autocrítica, reflexões, meditação... há práticas que nos auxiliam no caminho da sabedoria. A experiência e a ponderação sobre nossos pensamentos, também. E na sabedoria plena teremos absoluto domínio da nossa própria mente.

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