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Foto do escritorManuel Rosa de Almeida

PEQUENA HOMENAGEM A UM GRANDE HOMEM

Perdemos o professor René Dotti, uma luz na inteligência paranaense.

Imagem de jplenio por Pixabay



Não tive o privilégio de ser aluno do professor René Dotti. Mas o testemunho de inúmeros colegas privilegiados me assegura que era um professor especial, que sabia passar o conhecimento de uma forma elegante, interessante e profunda ao mesmo tempo. Não tive a felicidade de estagiar em seu escritório. Conheço, porém, pessoas que foram seus estagiários e todas afirmam que era uma pessoa humilde e atenciosa. Azar meu, com certeza.


A despeito disso, conheci o professor Dotti pessoalmente. Em uma ocasião, ainda jovem, promovia com alguns amigos um evento destinado a questionar/contestar os programas sensacionalistas que exploram o noticiário policial. Condenávamos, acerbamente, a maneira como os acusados eram tratados nestes programas, sofrendo exposição indevida e injúrias de toda natureza. René Dotti era convidado do evento para uma palavra em que daria sua opinião. Ele condenou os procedimentos verificados nos programas, como atentatórios à dignidade humana. Mas lembrou à nossa juventude algo irrefletida que, em nosso afã de coibir os abusos, não podíamos jamais resvalar em qualquer tipo de censura.


Em outra ocasião, acompanhei, como jornalista, sua posse como Secretário da Cultura - governo Álvaro Dias. Seu discurso de posse foi, como sempre, um exemplo da boa retórica. Com sua voz suave, mas firme, brindou a audiência com seu conhecimento e bom gosto, delineando o que esperava desenvolver no cargo que passava a ocupar. Havia na classe artística grande expectativa em torno de sua gestão e o professor não decepcionou nos quatro anos em que foi o titular da pasta da Cultura.


Na última quinta-feira, perdemos o professor. O luto familiar é natural, a dor da despedida. Mas penso que a sociedade paranaense, não tem motivos para lamentar. René Ariel Dotti teve uma vida longa, 86 anos. Nestas oito décadas e meia em que sua presença iluminou o mundo artístico e cultural de Curitiba, realizou muitas coisas. Na juventude, teve atuação destacada na resistência contra o regime militar, promovendo a defesa de pessoas perseguidas pela ditadura. Era preciso coragem para tanto. As alas mais radicais da extrema direita eram, por certo, perigosas e não aceitavam a abertura. O atentado no Rio Centro ( 1981 ) e à sede da OAB ( 1980 ) - que vitimou a secretária Lyda Monteiro da Silva - são prova dolorosa disso.


Foi um luminar no Direito Penal, autoridade indiscutível. Participou da elaboração da parte geral do Código Penal, da Lei de Execução Penal e da Lei de Imprensa. Brilhou no Tribunal do Júri, claro, pois era o palco perfeito para sua oratória afiada. Foi membro da Academia Paranaense de Letras, Secretário da Cultura com gestão destacada. Publicou inúmeras obras jurídicas importantes. Foi premiado, respeitado e reconhecido em vida. Porque lamentar o repouso após uma vida assim profícua? Lamentamos apenas sua ausência, porque a inteligência paranaense torna-se um pouco mais sombria.


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