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Foto do escritorManuel Rosa de Almeida

QUERIDO DIÁRIO, 3.1.2020

Qual o valor da vida humana?


Imagem de: www.slon.pics / Freepik

Curitiba, 3 de janeiro de 2020


Querido Diário:


O assassinato do general Soleimani - líder da Guarda Revolucionária Islâmica - verificou-se em recente ação cirúrgica dos Estados Unidos da América, naquilo que os militares classificariam de uma clean operation com mísseis. Sequer desejo polemizar em torno da figura do morto, considerado herói no Irã e terrorista nos EUA. O que me leva a escrever, querido diário, é outra sorte de reflexões.


O fato é que a execução do líder iraniano num aeroporto de Bagdá me deixa chocado por três razões:


a) Aparentemente, cada vez mais nos aproximamos das terríveis distopias que nos oferecem literatura & cinema. Afinal, um Estado onde por decisão de apenas uma pessoa se decreta a morte sumária de outra pessoa - pessoa que se encontra do outro lado do planeta - é a expressão dos piores poderes imaginados nas distopias. Novamente, não quero avaliar o dossiê do general assassinado, pois pouco importa. Nenhum jurista sensato classificaria a ação americana de legítima defesa. Trump tomou a decisão e sequer a dividiu com qualquer outra instância ( o Congresso americano, por exemplo ). Ora, Trump não é a pessoa mais sensata da Terra, sequer dos EUA, sequer do Partido Republicano e pode ir diminuindo o campo de análise… É desesperador imaginar que um cidadão como este - que já demonstrou colocar seus interesses acima dos interesses da nação que governa - possa decidir sobre a vida e a morte de qualquer pessoa no mundo. Os monarcas absolutistas tinham este poder. O que leva as distopias a aproximarem-se do nosso passado…


b) Trump e os militares americanos simplesmente desconsideram pessoas inocentes que possam estar no caminho da sua violência. Por mais cirúrgica que seja a operação, há sempre danos colaterais, inocentes que morrem. Para matar Soleimani, mataram outras oito pessoas. Imagino que os militares americanos classifiquem estas pessoas friamente de deficit necessário ou desvio padrão ou sei lá que termo técnico.


c) Do ponto de vista legal, não haverá consequências. A ONU, o Tribunal de Haia, as instâncias que deviam zelar por ações internacionais deste vulto, emitirão algumas notas que serão burocraticamente ignoradas. Do ponto de vista ilegal, as consequências são imprevisíveis. Teme-se que a retaliação seja terrível. Trump não se preocupa com isso. Afinal, é o povo americano quem paga o preço em sangue por seus desmandos. Muitos que morrerão pela insensatez do ato americano, são os mesmos que aplaudem Trump em seus comícios…


Assim, querido diário, a humanidade segue em ciclos de repetição infindável. O absolutismo que já superamos no passado, cada dia mais se aproxima do nosso cotidiano. Seres humanos exaltam a ação violenta, como se assistissem nas arenas romanas a morte de gladiadores. As distopias vão lentamente virando realidade. E a nave vai...

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