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Foto do escritorTião Maniqueu

QUÃO PERTO DO FASCISMO ESTIVEMOS?


Sempre dissemos que o ovo da serpente estava sendo gestado.

Imagem de Rádio Pampa



Dentro de 15 ou 20 anos saberemos a verdade. Algum general próximo à morte buscará a Veja e contará às páginas amarelas o que realmente aconteceu. Sequer precisaremos aguardar os cem anos de sigilo do Bolsonaro.


Por ora, assim como os arqueólogos buscam decifrar verdades de tempos distantes contando com apenas alguns artefatos, faremos o mesmo. E como um arqueólogo sortudo, recebemos no dia de ontem um precioso artefato. Pela investigação na casa de Anderson Torres, ex-Ministro da Justiça do governo Bolsonoro, veio à lume uma minuta de decreto presidencial que colocava o TSE sob estado de defesa.


A preciosa peça afirma que para garantir a preservação ou o pronto restabelecimento da lisura e correção do processo eleitoral presidencial do ano de 2022, no que pertine à sua conformidade e legalidade, as quais, uma vez descumpridas ou não observadas, representam grave ameaça à ordem pública e a paz social, o Tribunal Superior Eleitoral resta sob estado de defesa. Entre as medidas que seriam tomadas estão:


* Acesso a todas as instalações do TSE e às comunicações escritas, telefônicas e telemáticas dos Senhores Ministros, inclusive às urnas eletrônicas, medida extensiva a todos os TREs;

* Instalação de uma Comissão de Regularidade Eleitoral para apurar a conformidade e legalidade do processo eleitoral;

* Impedir o Poder Judiciário de questionar ou intervir nos trabalhos da dita Comissão de Regularidade Eleitoral.


A referida comissão seria formada por 8 membros do Ministério da Defesa ( dominado pelo governo, pois ), 2 membros do Ministério Público Federal ( aparelhado pelo governo sob a gestão Aras ), dois membros da Polícia Federal que sejam peritos criminais ( PF parcialmente aparelhada pelo governo ), 1 membro do Senado, 1 membro da Câmara Federal, 1 membro do Tribunal de Constas da União e 1 membro da AGU ( dominada pelo governo, igualmente ). Uma absoluta maioria golpista...


Ou seja: seria o golpe de Estado! Certamente, depois de concluir que a eleição foi uma fraude, o governo anularia as eleições e convocaria outras para um futuro incerto. Desde o começo do governo Bolsonaro essa coluna alertava para este risco, visto os evidentes sinais de que o Presidente da República não aceitaria a derrota nas urnas. Agora, extraído da casa de Anderson Torres, temos a prova material destas intenções. A punição para os envolvidos precisa ser exemplar, sob pena de continuarmos sofrendo as mesmas ameças de quatro anos de desgoverno Bolsonaro.


Importantíssimo dizer: O ex-Ministro da Justiça não negou a existência do documento, antes reconheceu que estava em sua casa. Limitou-se candidamente a dizer que, como Ministro da Justiça recebia muitas sugestões e que o decreto estava em sua casa para ser devidamente retalhado e eliminado. Ora! Se você é Ministro da Justiça e recebe uma minuta de decreto desta natureza, você desanca a pessoa que lhe passou o documento e o queima imediatamente, horrorizado com a possibilidade que documento assim sujo conspurque seu nome e suas mãos.


Sempre dissemos que o ovo da serpente estava sendo gestado. Apenas não podemos saber quão perto estivemos de mergulhar novamente numa ditadura fascista. Não sabemos sequer o risco que ainda corremos.

Provavelmente, o golpe não prosperou porque as Forças Armadas não estavam coesas em torno da ideia. Certamente havia generais, almirantes e brigadeiros dispostos a tanto, por isso os testes constantes de adesão feitos por Bolsonaro, como ocorreu no 7 de Setembro e em tantas outras ocasiões.


Provavelmente, também, o grande fator decisivo do fracasso das intenções fascistas no Brasil tenha sido a derrota de Trump. O governo Biden deixou claro que não aceitaria a quebra da ordem democrática no Brasil. E nossas forças armadas respeitam demais as forças armadas americanas. É como se teu irmão mais velho dissesse: se eu te pego fumando, te encho de porrada! A maioria dos caçulas não arrisca fumar.


De qualquer forma, provavelmente a democracia deve sua continuidade a alguns generais, brigadeiros e almirantes que se recusaram a endossar os planos dos fascistas. Estes homens, hoje anônimos, dissuadiram outros com intenções fascistas dentro das Forças Armadas, porque estes não quiseram arriscar uma guerra civil. Aos militares de bem, ainda anônimos, rendo minhas homenagens.


Dentro de 15 ou 20 anos saberemos a verdade. Algum velho general - do lado dos mocinhos ou dos vilões, não sei - contará às páginas amarelas da Veja a verdade dos fatos. E nem precisaremos esperar os cem anos de sigilo de que Bolsonaro tanto gosta.



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