top of page
Foto do escritorHatsuo Fukuda

RECOMENDAÇÕES AO HERMANO MILEI


Uma proposta modesta para o candidato Milei.


Imagem de Metro 1.


O candidato a presidente da Argentina, Javier Milei, apresentou a proposta de venda de órgãos humanos. Nada mais justo. Cada ser humano é dono de seu próprio corpo. Por que não poderia vender partes dele? O mercado resolveria o problema. Criar-se-ia um mercado legal, onde quem quisesse poderia vender o seu rim, seu pulmão, seu coração. Pagando bem, que mal tem?


Mas Milei, como todo liberal latino-americano (sem dinheiro no banco, sem parentes importantes, e vindo do interior), com toda a sua empáfia, é um tímido e um caipira. Se um homem é dono de seu próprio corpo, e pode ser autorizado a vender seus órgãos, porque não dar o passo decisivo e radical: vender a si mesmo? Quem pode o mais, pode o menos. No caso, se pode o menos – vender a parte – pode vender o todo. Ou alugar, ou arrendar. Milei é economista, sabe que o mercado resolve tudo e encontrará mecanismos hábeis a controlar a oferta e a procura. Cabe ao Estado garantir segurança jurídica aos contratos, o que fará, com a habitual serenidade jurídica argentina, reconhecida no mundo todo. De quebra, Milei garantirá o apoio das feministas argentinas, que ficarão gratas com o uso do lema “my body, my choice”.


Mas a minha crítica ao candidato Milei – totalmente construtiva, afinal, somos hermanos e estou pensando no bem da nação argentina – não para aí. Lembrando que Milei, na legítima e centenária tradição do macho argentino, garantida por tangos e guerras de extermínio contra índios e comunistas, já afirmou que não tem vergonha de ter um pênis, o capo familiar deve também poder dispor do corpo de sua fêmea e de sua criação, inclusive para compra, venda ou aluguel. Caberia, claro, ao mercado regular a oferta e a procura, e ao Estado garantir a segurança jurídica dos contratos.


Vejo vastas possibilidades econômicas aqui. Criar-se-ia o mercado de baby beef argentino. Empreendedores individuais logo surgiriam aos milhões. Grandes empresas frigorificas entrariam no negócio. Bancos ganhariam. Supermercados teriam um setor especializado em carne humana. Gourmets argentinos – a melhor carne do mundo, todo mundo sabe, vem da Argentina – iriam proliferar como erva daninha. A natalidade iria aumentar, afinal, os machos tratariam de produzir filhos. E, de quebra, sobrariam vacas para exportar e garantir os dólares que o país precisa.


Não seja tímido, Milei. A livre iniciativa é sagrada. Vamos vender também as criancinhas. De quebra, não haverá mais fome nas favelas argentinas. Todos poderão comer o seu quinhão de carne.


Meu último conselho ao Hermano Milei. Já que você detesta Maradona, e idolatra Pelé, por que não sequestrar o corpo de Pelé e colocá-lo no Panteão da Pátria Argentina? Todo mundo sabe que as Forças Armadas Argentinas são ótimas para lutar contra mulheres e civis desarmados. Sequestrar um cadáver será moleza para estes heróis. Deixe o corpo de Maradona no lugar de Pelé. Saiba que aqui ainda respeitamos grandes jogadores. Nós o trataremos com o respeito que Maradona merece.



Como toda grande idéia, esta já tem dono. Jonathan Swift já a apresentou, com muita arte, no artigo “Uma Modesta Proposta”. Está nas redes, grátis. A eleição na Argentina será no dia 19 de novembro. Salve-se quem puder. Só nos resta tocar um tango argentino.

Comments


bottom of page