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SABEDORIAS TRADICIONAIS


Com o aquecimento global, Curitiba será uma cidade praiana. Adeus Matinhos, adeus Caiobá, adeus Pontal.




Uma das consequências mais bem-vindas do aquecimento global, com o derretimento das geleiras nos Árticos e a subida do nível dos oceanos, será a transformação de Curitiba em cidade praiana. Com isso, os curitibanos ficarão dispensados da tediosa obrigação de se acotovelar em Matinhos, Praia de Leste, Pontal e adjacências. Finalmente teremos praia, e de quebra, também um porto, pois Paranaguá também desaparecerá.


Infelizmente os habitantes do litoral deverão se mudar para cá, mas é o ônus do progresso. Como somos otimistas, e sempre prontos a olhar para o copo meio cheio, já nos alegramos de antemão com as inúmeras possibilidades do aquecimento global. Essa história de que a Amazônia vai se transformar em um deserto, e o Agreste Nordestino em um Saara é coisa de pessimistas que se recusam a ver o lado bom das coisas. Haverá tufões no Sul do Brasil? Sim, mas pensem nas possibilidades que se abrem. Uma grande indústria de tufões poderá ser criada, e o Estado poderá inclusive criar uma estatal, a Tufãobras, destinada a gerir o auxílio aos desabrigados que surgirão, anualmente. As secas vão devastar as plantações de soja e trigo no Paraná? Esqueça. Nossos agricultores se dedicarão a plantar cactos e ervas daninhas para alimentar as populações famintas. Há um vasto mercado se abrindo para os empreendedores locais.


A indústria da seca poderá dar lugar à indústria da chuva. Aqui vamos nos socorrer da sabedoria tradicional dos povos originários. Todos sabem que os astecas não tinham problemas com secas ou excesso de chuvas. Seus deuses tudo proviam, até a chegada dos malditos conquistadores espanhóis, que destruíram a milenar cultura asteca. Um dos deuses astecas, Atlcaoalo, o deus da chuva, era homenageado no primeiro mês do ano. Esta cerimônia era realizada em todos os lugares, no alto dos montes, para que o deus melhor apreciasse a oferenda. Criancinhas ricamente vestidas eram levadas em liteiras adornadas com plumas e flores, acompanhados pela população devota, que seguiam cantando e dançando. Quando chegavam ao alto dos montes, onde estavam os templos, a criança era colocada em um altar, e, ainda viva, quatro homens seguravam os membros e um quinto a cabeça, para que um sacerdote abrisse o seu peito e arrancasse o coração com uma faca de pedra, levando-o ao alto, para que o deus se alegrasse. Se a criancinha, assustada, chorasse, era considerado sinal de bom augúrio. Com certeza haveria chuva. E como nada se deve desperdiçar, a seguir os cadáveres eram entregues aos seus donos, para que não faltasse carne na mesa da família.


Como todos sabem, nunca houve notícias de seca entre os povos astecas – devidamente documentada por fontes seguras. O retorno às tradições dos povos originários poderia se socorrer da tradicional sabedoria asteca no apaziguamento da fúria da natureza.


Outra nobre tradição dos povos originários a ser apreciada, com o aumento da população idosa no planeta, é a homenagem à deusa Teteuinnan, que significa “nossa avó”. No undécimo mês, uma mulher ricamente vestida era levada ao templo, e colocada no altar de pedra, onde, rapidamente, tinha a cabeça cortada e a cabeleira arrancada. Um homem vestia a cabeleira e levava muitos cativos a outro templo. Lá, quatro deles eram mortos (de maneira tradicional, ou seja, arrancando os corações). Se cortássemos as cabeças de todas as velhinhas, além de aumentar o sortimento de carne no mercado, haveria um grande incremento na indústria de perucas – detalhe a ser apreciado pelas mulheres vaidosas. Alguns pessimistas diriam que a carne de gente idosa não é boa, mas como a fome vai imperar, ninguém vai ligar. É a lei da oferta e da procura, como sabem todos os economistas liberais.


Estas tradições dos povos originários, infelizmente hoje esquecidas, em um mundo que se descolou da convivência rica com a natureza e despreza a sabedoria tradicional dos povos nativos, se recuperadas, com certeza seriam um passo seguro na recuperação da saúde da Mãe Terra, Pachamama.



Todas estas cerimônias astecas foram documentadas pelo Frei Bernardino de Sahagún, no livro História General de las cosas de la Nueva España. A história de como Frei Bernardino pesquisou e construiu seu livro daria um romance, além de ser uma lição de paciência e dedicação científica. Um erudito panorama da cultura asteca pode ser encontrada no livro de Willian H. Prescott, History of the Conquest of Mexico. Prescott discute o canibalismo entre os astecas e especula sobre os números dos sacrifícios humanos realizados. Uma fonte refere a existência de uma pirâmide de caveiras com mais de trezentos mil crânios. O consumo de carne humana, segundo ele, era cerimonial. Mas não duvido que fosse a maior fonte de proteína vermelha no império.

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