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Foto do escritorTião Maniqueu

SISTEMA ELEITORAL NORTE-AMERICANO:ULTRAPASSADO, INJUSTO E ANTIDEMOCRÁTICO

Todas as tensões presentes nas eleições americanas são resultado de um sistema eleitoral elaborado no século XVIII.




Hoje é o dia das eleições nos Estados Unidos. Os americanos são uma grande nação, ninguém duvida. São também a maior e mais antiga democracia do mundo. Por isso é realmente espantoso que sejam tão atrasados no que se refere à maneira como escolhem seu líder máximo. Não me refiro apenas à não adoção plena do voto eletrônico, embora seja extremamente anacrônica a apuração de votos lançados no papel. Refiro-me, em especial, ao sistema que domina a eleição presidencial nos EUA.


Para se ter ideia de como o sistema eleitoral americano é injusto, faremos um pequeno exercício matemático. Provaremos, à força dos números, quão absurdo ele é. Trata-se de um sistema indireto, em que o povo vota no candidato, mas são os delegados de cada estado federado que elegem o Presidente. E em 48 destes estados o sistema impõe que todos os delegados sejam contados apenas para o candidato vencedor, sem respeitar a proporcionalidade da votação nas urnas: 90% contra 10%, 60% contra 40%, não importa. O vencedor leva todos os votos dos delegados.


Isso pode criar distorções terríveis, de modo que o menos votado possa vencer as eleições. Pode eliminar a ideia-conceito um homem, um voto, já que milhões de votos podem simplesmente valer nada. Isso aconteceu em 2016 com três milhões de votos para Hillary Clinton. Seu valor foi zero e Trump foi o grande beneficiado. Elegeu-se, mesmo com menor aceitação do povo.


Em média, cada delegado americano corresponde a 400.000 votos. É bom esclarecer que se trata de uma aproximação que estamos usando nesta simulação. Esta relação não se verifica exatamente em todos estados, mas é bem próxima à realidade. Os 538 delegados que elegem o Presidente representam, assim, 215.200.000 eleitores, aproximadamente o número de votantes dos EUA. Neste exercício desconsideramos Nebraska e Maine, os dois únicos estados que admitem a proporcionalidade no voto dos delegados. Estes dois estados juntos têm apenas 9 delegados, de modo que são, estatisticamente, irrelevantes. Desconsideramos também a abstenção. Como se trata de uma ficção, imaginamos que todos eleitores estejam votando. Isso nunca ocorre, mas novamente é teoricamente possível.


Nesta simulação pensaremos o quadro mais injusto possível, extremamente improvável, mas estatisticamente com chance superior a zero. Vamos supor que o candidato A elegeu-se com 270 delegados ( o número mínimo possível ). O candidato B obteve os 268 delegados restantes. Mas agora vamos admitir que para obter seus 268 delegados, o candidato B fez uma campanha perfeita e obteve 100% dos votos dos estados em que venceu. Teríamos o quadro parcial seguinte:


Candidato A - 268 delegados - 107.200.000 votos

Candidato B - 0 delegados - 0 votos.


Já o candidato B conquistou seus 270 delegados em eleições acirradíssimas, as mais disputadas possíveis nos estados em que venceu, obtendo sempre uma vantagem mínima. Teríamos o quadro parcial seguinte:


Candidato A - 0 delegados - 53.999.999 votos

Candidato B - 270 delegados - 54.000.001 votos


A somatória total apresentaria o seguinte resultado:


Candidato A - 268 delegados - 161.199.999 votos - Derrotado

Candidato B - 270 delegados - 54.000.001 votos - Vencedor

Diferença de votos - 107.199.998 votos


Teríamos nos Estados Unidos da América um Presidente eleito que recebeu 107 milhões de votos a menos que seu adversário. Incrível! Non sense! Palmas para o sistema!

Naturalmente este é um exercício mental, destinado a esticar as condições negativas ao extremo. Ainda assim, hipoteticamente possível. E por ser possível, por já ter causado injustiças em menor escala, inaceitável. Está na hora dos americanos criarem vergonha, perceberem o quão injusto e antidemocrático este sistema é. Está na hora de entenderem que voto em papel é coisa do Século XX. E que o sistema eleitoral imaginado pelos fundadores, que vige até hoje, coisa do Século XVIII.


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