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Foto do escritorTião Maniqueu

SITUAÇÕES EXTREMAS, INTERESSES ESCUSOS

A postura do Presidente no enfrentamento à pandemia vem mostrando suas piores facetas...




Muitas pessoas vêem situações extremas como oportunidades. Quem acompanhou a série Game of Thrones certamente recorda a cena em que o personagem Mindinho afirma que para ele o caos é uma escada. Ou seja: o mundo está desmoronando à sua volta e você está pensando em como subir. Parece desnecessário dizer que o personagem Mindinho não é nada ético.


O mundo está enfrentando uma pandemia que, se não o lançou no caos, certamente pode ser classificada como situação extrema. E já apareceram os oportunistas interessados unicamente em subir, agarrando-se a destroços. Usando o pretexto do combate ao coronavírus e contando com um parlamento ultraconservador, o Primeiro Ministro da Hungria, Viktor Orbán, conseguiu obter poderes ilimitados por tempo indeterminado. Parece absurdo, mas é isso mesmo: poderes ilimitados por tempo indeterminado.


Claro, isso é um golpe. Governar por decreto sem consultar o parlamento e poder fazê-lo por tempo indeterminado transforma o líder em ditador. Simples assim. Agora, Orbán pode mandar prender quem não seguir suas orientações acerca da pandemia ou qualquer jornalista que publique aquilo que o governo entender como inadequado - prisões insignificantes, apenas oito ou cinco anos. Ele prometeu solenemente devolver todos os poderes quando a crise terminar. Você confiaria?


Putin, outro quase ditador na Rússia, pensa seguir pelo mesmo caminho. Quer obter poderes para obrigar todo mundo a fazer o que ele pensa e censurar a imprensa. Mediante prisões, naturalmente. Isso os transforma no que eram os cônsules romanos em tempo de guerra - detentores de poderes absolutos.


Vocês imaginaram Bolsonaro com poderes absolutos? Que seria dos brasileiros nesta pandemia? É bom lembrar que o homem vem flertando com a ditadura desde que assumiu o governo, usando todos os ingredientes da fórmula: elogio a ditadores de direita, defesa da tortura, críticas à imprensa livre e às instituições mais caras à democracia ( Parlamento, Poder Judiciário, Partidos Políticos ), defesa do AI-5, populismo do mais chão…


A postura do Presidente no enfrentamento à pandemia tem sido preocupante. Não se trata apenas do negacionismo - característica deste governo de pouquíssimas luzes. Trata-se de olhar a crise com olhos de quem procura a escada do Mindinho, buscando os destroços que possam servir de degrau. Ele corteja as camadas menos esclarecidas da população da maneira mais desonesta possível. Ontem, por exemplo, citou o Diretor-Geral a OMS - Tedros Adhanom - completamente fora de contexto, para justificar sua defesa à volta ao trabalho das classes menos favorecidas.


Omitiu o contexto, qual seja: como temos de impor o isolamento social, cabe ao governo assegurar condições mínimas de sobrevivência a esta população. Bolsonaro sabe que sua interpretação da mensagem do Diretor-Geral da OMS é totalmente distorcida, mas não está nem aí. Continua pregando mentiras aos pouco esclarecidos… com que objetivo?


Na melhor das hipóteses, ele quer sair bem dessa. Se a pandemia não se mostrar tão grave no Brasil, o que todos esperamos, dirá: estão vendo, não era isso tudo. Eu fui o único que defendi os menos favorecidos. Jamais reconhecerá que o isolamento social, com todos seus sacrifícios, terá cumprido seu papel. E se a pandemia se agravar, fará o que sempre faz: negará tudo que disse antes, lançará a ira do povo contra Governadores e Prefeitos, pois afinal eles são responsáveis pelo caos no sistema de saúde público, porque hospitais são estaduais e municipais. No final, tentará ainda faturar alguns dividendos.

As democracias possuem válvulas de escape para emergências. O governo já está autorizado a desrespeitar os limites de gastos e do déficit fiscal sem as consequências de praxe, pois todos estão conscientes da situação extrema. Mas o governo Bolsonaro está sendo lento em atender a população carente, muito por culpa do Presidente, que tudo faz para lançar entraves nas melhores iniciativas. Aos invés de pregar mentiras aos menos favorecidos, deveria atendê-los.


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