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SONHOS HOLLYWOODIANOS

Atualizado: 7 de jun.


Before the fiddlers have fled/Before they ask us to pay the bill/and while we still have the chance/Let’s face the music and dance


Imagem de Wikipedia.



Irving Berlin, quando garoto, órfão, morando em um gueto de imigrantes em Nova Iorque – ele veio da Rússia com a família – como muitos meninos da época, cantava nas ruas para ganhar algumas moedas. Logo se deu conta que havia mais moedas quando cantava canções populares, “fáceis”. Foi uma lição para toda a vida. Agradar o ouvinte comum passou a ser sua meta. E como agradou. No Great American Songbook – o cânone da canção popular americana - Berlin está entre os maiores, provavelmente o maior, mesmo se incluirmos no cânone o rock e a canção country.


A vida de Berlin foi quase um conto de fadas. Para ele, um pobre imigrante judeu russo, foi o american dream. E ele retribuiu dando a seus ouvintes muitas e muitas ocasiões para sonhar. A vida teria sido muito mais chata não fosse a trilha sonora que Berlin produziu, boa parte dela inspirada em sua própria vida. Considerem Always:



“Days may not be fair/ Always/That’s When I’ll be there/ Always/Not for just an hour/Not for just a day/Not for just a year/But Always”



Ele a escreveu inspirado na namorada, Ellin Mackay, uma das mais ricas herdeiras americanas, cujo pai era contra o casamento. Berlin, embora rico e famoso, não passava de um judeu vindo de um gueto de Nova Iorque. Era muita areia para o caminhãozinho de um judeu, pensava o milionário.


Não à toa os musicais da Broadway e de Hollywood refletiam este ambiente de sonhos. A realidade já era suficientemente chata ou sombria. Ir ao teatro ou ao cinema para se deliciar com as misérias da vida? Sai fora. E dá-lhe lindas mulheres, em vestes longas e vaporosas, sorridentes e bem maquiadas, acompanhadas de homens vestidos de fraque e cartola em cenários luxuosos que só Hollywood poderia imaginar. Nada mais distante da vida do homem comum.


Histórias pífias, diálogos horríveis, piadas bobas, mas recheados com canções de Irving Berlin, Jerome Kern, Ira e George Gershwin, Cole Porter, e grandes performances de dança de Fred Astaire com Ginger Rogers, Judy Garland, Eleanor Powell, Rita Hayworth. Impossível não assistir e se maravilhar.


Berlin escreveu o hino não oficial dos Estados Unidos, Deus Salve a América. Como ele foi um daqueles “poor, tired, homeless” apanhado nas tempestades do mundo (Obrigado, Emma Lazarus), e lá recebeu abrigo, sempre foi grato, muito grato, ao país. Em resposta, Woody Guthrie escreveu This land is your land, que por sua vez tornou-se também um hino não oficial dos despossuídos da América. Quando Obama assumiu a presidência – finalmente, um negro lá – no show comemorativo da posse, Bruce Springsteen e Pete Seeger cantaram a canção de Guthrie. Mas God Bless America é provavelmente a canção que inspira a todos que para lá foram e buscam uma vida melhor do que têm em seus países nativos.


Mas o lado que mais fascinou os ouvintes do mundo todo foram as canções românticas. Em um universo que produziu grandes compositores – nenhum outro país teve tantos e tão bons – Berlin era o suprassumo. Detalhe: ele não teve formação musical – aliás, não teve formação nenhuma além daquela da rua – tocava piano de ouvido. No entanto, a sutileza de suas melodias, e a tessitura romântica – um conto de fadas às vezes pontilhado com as realidades da vida – às vezes bem humorado – às vezes depressivo – embalaram milhões de ouvintes do mundo. Como ele mesmo disse, em uma das grandes canções, Let’s Face the Music and Dance:



“There may be trouble ahead/But while there’s music and moonlight and love and romance/Let’s face the music and dance/Before the fiddlers have fled/Before they ask us to pay the bill/and while we still have the chance/Let’s face the music and dance.”



Irving Berlin e Ellin Mackay se casaram e foram felizes para sempre. Com música e dança.



No Youtube você pode encontrar grandes performances de Fred Astaire em canções de Irving Berlin, Cole Porter (Begin the Begine, com Eleanor Powell é um assombro), Jerome Kern, Ira e George Gershwin e outros. No streaming encontram-se alguns filmes. Boa sorte.

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