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Foto do escritorHatsuo Fukuda

TOMANDO GASOSA NA PRUDENTE


O caminhante cede à tentação da amizade partilhada em torno de uma mesa e uma taça cheia.


Rua Prudente de Moraes - Imagem MCities Curitiba.



Na minha caminhada diária vejo que estou perto da casa de meu amigo. Grito no portão chamando-o para tomar uma gasosa com chineque. Sei que haverá uma inevitável briga para a escolha do sabor: framboesa ou abacaxi? Pior ainda: gasosa ou gengibirra? Mesmo assim. Nos encaminhamos lentamente em direção à Rua Prudente de Moraes, onde novos bares e aventuras nos aguardavam. Não havia gasosa. Rendido pelos fatos da vida, peço uma IPA frutada e um uísque para rebater. Meu amigo, em fase revolucionária – ou saudosista – ataca de Cuba Libre. Lembranças de outras cubas, libertárias ou não, me vêm à mente. Comida não. Bêbados inveterados, não cometeríamos o sacrilégio de misturar sólidos com néctar dos deuses. Uma multidão de jovens, mulheres na maioria, se amontoam nas mesas da calçada. Os bares com mesas nas calçadas lotadas, as mesas de dentro vazias. Um belo final de tarde curitibano.


A bebida o levou à lembrança de suas viagens a Cuba, para onde foi, ou por turismo ou a trabalho. Um país lindo – afinal, fica no Caribe – Habana Vieja, um patrimônio da humanidade, caindo aos pedaços, mas linda – lindas mulheres, entre elas as melhores prostitutas do mundo. Ótimos charutos, baratos. Um outro amigo, este mais malandro, já havia me falado das mulheres cubanas. O turismo sexual é uma grande fonte de dólares.


A revolução produziu uma casta de burocratas distantes daqueles austeros revolucionários dos anos 60. Os Comitês de Defesa da Revolução se transformaram em grupos de enxeridos que invadem as casas dos vizinhos, curiosos para saber quem eles estão recebendo no jantar, aliás, pobre. O Estado se intromete na vida de todos, confiscando a renda dos poucos que foram autorizados a manter um pequeno negócio, uma pousada, um restaurante. Quem pode foge para Miami, onde se juntará à multidão de refugiados da primeira leva, hoje americanos de segunda e terceira geração, anticomunistas ferozes. Cuba se tornou um dos mais pobres países da América Latina, vivendo das esmolas do Império Soviético, antes; depois, do petróleo fornecido por Chaves, e agora, com a Venezuela caindo aos pedaços, com sua própria cleptocracia “revolucionária”, é uma crônica de um sonho que se tornou um pesadelo.


A noite, sem que percebêssemos, havia se instalado. Mulheres, jovens na maioria, conduziam cachorrinhos em seu passeio diário. Um ambiente bucólico, quase de cidadezinha do interior, acalmava o coração.


Tarde demais para continuar a caminhada. Agora, nas esquinas, suspicazes figuras me aguardavam. Hora de chamar um Uber.



Revitalizada, a Rua Prudente de Moraes e imediações se tornou um agradável ponto de encontro curitibano. Há outros, claro. Mas, ao sair de lá, à noite, cuidado. Melhor sair de táxi ou Uber.

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