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TRUMP É UM CANALHA



Sua imagem está sedimentada na opinião pública. E é o favorito nas eleições de novembro.


Imagem de RFI.



Os cinemaníacos frequentadores das sessões da tarde acostumaram-se a ver um personagem estranho nos filmes, em aparições relâmpago sem nada a ver com a narrativa: um bilionário egocêntrico, sem papas na língua, antipático, boçal, usando ternos escuros e gravatas vermelhas. Era ele mesmo, Donald Trump, interpretando a si mesmo. Não satisfeito com esses pequenos papéis, Trump criou seu próprio espetáculo, O Aprendiz, um reality show com um grupo de candidatos a trabalhar nas empresas de Trump. Neste show, Trump popularizou a frase “Você está demitido!”. Bem simpático.


Ele chegou a dizer que poderia parar na Quinta Avenida, disparar contra uma pessoa e não perderia eleitores. E que parte de sua beleza é que ele era muito rico. Uma das que eu mais gosto: “Quando você é uma estrela, as mulheres te deixam fazer tudo. Você pode fazer o que quiser com elas”.


As pessoas adoram, mulheres inclusive, atraídas pela aura de poder e autossuficiência. Quase metade da população americana vota nele, a maioria incondicionalmente. Condenado pela Justiça, ainda assim ele é o favorito nas eleições presidenciais. Confiante na vitória, escolheu o companheiro de chapa, J. D. Vance, pensando na passagem do bastão (ele tem 78 anos). Escolheu um Mafagafinho para ser parceiro do Mafagafão.


Tudo ia bem, no melhor dos mundos para Trump. Enfrentaria um presidente aparentemente senil, com baixa energia, com lapsos de memória (ele também tem seus problemas com a idade, mas seus eleitores não ligam), o que ficou evidente no debate que travou com Biden, e, para sua felicidade, um atentado o transformou em mártir. Nós brasileiros sabemos como isso funciona. Trump estava prestes a ser canonizado como Herói da Pátria, e as eleições em um passe de mágica se transformaram em uma marcha triunfal, na qual ele seria ungido em novembro.


A renúncia de Biden e o lançamento de Kamala mudaram tudo. No novo cenário ele é o velho senil na disputa. Ela representa tudo aquilo que seus eleitores detestam: é negra, filha de imigrantes (pai jamaicano e mãe hindu), mulher independente, profissional de sucesso, gosta de rir e dançar. E tem em seu currículo algo que vale ouro na disputa contra um homem cheio de problemas com a Justiça: foi Procuradora de Justiça da Califórnia, com um currículo que a associa à Lei e Ordem, sacrossantos pilares da política americana.


As pesquisas detectaram a ascensão de Kamala Harris. Ela já empatou com Trump nas intenções de votos. Como o sistema eleitoral americano combina voto popular com votos em delegados eleitorais por Estado, e o voto não é obrigatório, as pesquisas devem ser vistas com muita cautela. O candidato pode ganhar no voto popular, e perder as eleições, desde que assegure a maioria no Colégio Eleitoral. Quase todos os Estados já têm maioria assegurada, seja de republicanos ou de democratas. Sendo assim, a disputa é sempre decidida nos Estados-Pêndulo, onde o eleitorado ainda não se decidiu.


Trump reagiu a Kamala da maneira usual: “lunática” é o insulto favorito. Mas, hábil manipulador da mídia, já lançou a discussão sobre a raça da candidata. Diz Trump que ela não é negra. Por mais absurdo que seja, o tema ganhou a atenção da mídia. Ele tem experiência neste tipo de fake news. Anos atrás, lançara a dúvida sobre a nacionalidade de Obama. Obama não seria americano, segundo Trump. E durante anos a questão foi discutida na mídia. A tática é novamente utilizada, com o objetivo de distrair as atenções do eleitorado sobre temas sérios, como por exemplo se um homem condenado pela Justiça pode ser presidente dos Estados Unidos.


As eleições serão no dia 5 de novembro, daqui a 87 dias. No momento em que escrevo, Trump é o favorito. Mas ele acusou o golpe que foi a entrada de Kamala na disputa. A desistência de Biden foi uma fraude, disse. Ele foi enganado. Com certeza. Biden mostrou que é uma raposa nas artes da política americana. Tateando o terreno, Trump usa os velhos truques: insultos, fake news, de modo a ganhar espaço na mídia e manter aquecido o seu eleitorado, que adora ouvir suas histórias. Mas o contra-ataque virá, Kamala que aguarde.


O circo está armado, e o espetáculo promete grandes emoções.



Amor à Segunda Vista é uma ótima comédia romântica com Sandra Bullock e Hugh Grant (para assinantes do Max). Trump aparece interpretando ele mesmo. Como sempre, egoísta e interesseiro, mas razoavelmente sóbrio. Pesquisando na Internet você encontrará uma lista de filmes em que ele participou. Na política americana (e mundial) não há ninguém que se compare a ele no manejo da mídia e das redes sociais, o que o torna um adversário temível. Mas neste quesito Kamala não é boba, como se viu na onda Coconut Tree e Kamala is brat.

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