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Arthur de Lacerda Neto

UM PARLAMENTÁRIO DO CERCO DA LAPA: ARTHUR SUPLICY.


Coronel da Guarda Nacional, era maragato e como tal integrou magote de parlamentários que em 22 de janeiro de 1894 tentaram obter a rendição do coronel Carneiro, durante o sítio da Lapa.


Arthur Virmond de Lacerda Neto

Tropas legalistas durante o cerco da Lapa.


Arthur Virmond Suplicy (Niterói, 1866 — Lapa, 1945) foi comerciante, ervateiro e fazendeiro. Coronel da Guarda Nacional, era maragato e como tal integrou magote de parlamentários que em 22 de janeiro de 1894 tentaram obter a rendição do coronel Carneiro, durante o sítio da Lapa.


Em Floriano: Memórias e documentos, David Carneiro informa ter havido três deputações de parlamentários, todas no dia 22 de janeiro e compostas, respectivamente: por três homens, de manhã; um homem (tenente José Schiattitela Chiquet); representantes, em número plural, cujos nomes deixa de expor. Assim, houve pelo menos seis parlamentários.


Em Gomes Carneiro e a consolidação da república, o mesmo autor nomeia três:

“O fogo recomeçou com intensidade enorme e foi constante por algum tempo.


Cessou por completo novamente, quando novos parlamentários se apresentaram, comissionados pelo comércio de Curitiba.


Eram José F. Loureiro, Artur Balster e Artur Suplicy, portadores de ofício dirigido ao Coronel Carneiro.” (p. 104).


José Loureiro Fernandes, em A comissão do Comércio de Curitiba na Revolução de 1894 (in Anais do primeiro congresso de história da revolução de 1894) nomeia-os: “Apelou-se para o Barão do Sêrro Azul, que encontrou no círculo de seus abnegados companheiros elementos dispostos a desempenhar essa missão, que acabou sendo confiada aos Snrs. Artur Balster, José Fernandes Loureiro, Manoel Cunha, Sebastião Lobo, Guilherme Varran e Artur Suplicy.” (p. 286). Certamente por lapso, omitiu o nome de Augusto Roderjan.


Também Octávio Secundino Júnior nomeia-os, em Um episódio maragato: “Uma comissão foi composta nas pessoas dos srs. Manoel Cunha, Sebastião Lobo, Artur Suplicy, Guilherme Verran, Augusto Roderjan, José Fernandes Loureiro, Artur Balster e os dois últimos penetraram na praça no dia 22 de janeiro, com bandeira branca [...]” (p. 158).


Das fontes disponíveis, é a primaz o Diario do Commercio de 25 de janeiro de 1894 que, sob o título Os parlamentários na Lapa, minudencia as circunstâncias em que decorreu a tentativa de parlamentação e identifica, por seus nomes, os integrantes da comissão parlamentária, dentre eles Arthur Virmond Suplicy:


Acerca deste assumpto, a que hontem jà nos referimos, temos mais os seguintes pormenores.


Repellido à bala o primeiro enviado, portador da mensagem do General Piragibe, um outro foi enviado por parte do Coronel Pimentel, ex-commandante das forças que capitularam em Tijucas.

Nessa ocasião o Sr. General Piragibe mandou romper logo em toda a linha, o qual se prolongou das 9 às 2 horas da tarde.

O segundo enviado, como o primeiro, nada poude conseguir.

Compareceu emfim, no logar tendo-se offerecido expontanea e humanitariamente para parlamentear com os resistentes uma commissão do Commercio desta praça, a qual tantas provas de abnegação e patriotismo tem dado, nestes momentos de graves difficuldades.

Essa comissão compunha-se dos prestantes cidadãos — Manoel Cunha, Arthur L. Balster, Sebastião Lobo, Guilherme Verran, José Fernandes Loureiro, Augusto Roderjan e Arthur Suplicy.

O Sr. General Gumercindo julgou mais conveniente mandar uma só pessoa, e encarregou o Sr. Arthur Balster de se entender com os commandantes da praça fortificada, oferecendo-lhes a seguinte proposta: - garantia de vida para todos os rendidos.

O Sr. Arthur Balster expoz em voz alta aos commandantes, officiaes e praças, q` o rodearam em grande numero – a situação dos negocios, offerecendo a proposta de garantias, de que foi portador.

Infelizmente, porem, ainda desta vez foram baldados os esforços do digno cidadão.

Apoz essa conferencia, como o Sr. Arthur Balster tivesse entregue um cartão do Sr. Loureiro ao Coronel Lacerda, este mandou um emissario ao acampamento dos revolucionários, convidando o mesmo Sr. Loureiro para uma entrevista.

O Sr. General Gumercindo instou por uma nova conferencia.

Se incumbiram de fallar pela comissão os Srs. Balster e Jose Fernandes Loureiro, que foram acompanhados pelos demais membros até as proximidades das trincheiras.

Mal puderam se entender com os resistentes. De ordem do General Gumercindo declararam aos commandantes, que, em ultimo caso, retirassem as famílias, porque ele, general, queria guerrear homens, e não mulheres e crianças !

As pressas puderam os emissarios se retirar, porque não se julgavão seguros.

Quando vinham de retirada em sua direcção e proximidades choviam as lanternetas.

A commissão de commercio merece, pois, louvores, porque, com risco da propria vida, empregou até o ultimo recurso para evitar uma hecatombe, na visinha e prospera cidade da Lapa.

À vista desta participação no campo federalista, é compreensível fosse Arthur visado pelo governo, uma vez reposta a legalidade no Paraná, em maio de 1894: foi detido (como dezenas de outros federalistas) no teatro São Teodoro, em Curitiba; capturaram-no em seu engenho de erva mate (onde posteriormente existiu a lancheria Kharina, na av. Benjamin Lins, esquina com a rua Buenos Aires). Sua irmã, Alice Supplicy de Lacerda, andava nervosíssima por causa de sua detenção; pranteava-se, na incerteza do que lhe poderia sobrevir e insistiu com seu marido, Manuel José Correa de Lacerda (Duca de alcunha), para que este inverviesse em prol da soltura de Arthur; Manuel obteve-a, às duas horas da madrugada, em intervenção em que ameaçou Joaquim Freire (secretário do distrito militar) à mão armada, em 19 de maio de 1894, véspera do assassínio do Barão do Serro Azul e seus companheiros de desdita. É possível que houvesse sido morto com eles, consoante voz na família. Uma vez solto, Arthur permaneceu por três meses (de maio a agosto) oculto no morro do monge, na Lapa, onde suas filhas levavam-lhe mantimentos, até serenar o estado de coisas no Paraná e já não correr riscos.

Manuel José Corrêa de Lacerda e Arthur “não quadravam bem um com o outro”, por efeito das respectivas opiniões políticas: aquele era pica-pau (os Lacerdas eram-no) e chamava a Arthur “maragatão”, e “maragata” a sua esposa, Eugênia Francisca de Andrade Virmond.

O romance Rastros de sangue, de David Carneiro, narra a soltura de Arthur:

“Lacerda disse então a Joaquim Freire:

— O General [Ewerton Quadros] disse-me que lhe pedisse a ordem de soltura para meu cunhado.

— Qual o nome ?

— Artur Suplicy. E enquanto Freire escrevia a ordem [...]”


O nome de Arthur figurou no Almanak Laemert por sucessivos anos e a diversos títulos: em 1910, era camarista na Lapa e possuía engenho de serra, nomeado Rebello & Suplicy; era fazendeiro e criador. Em 1911, consta como camarista na Lapa e nos tópicos “Engenho de serra” (como Rebello & Suplicy), agricultor e lavrador, e criador; em 1913 era camarista na Lapa, possuía engenho de serra (Rebello & Suplicy), constava como agricultor e lavrador; em 1914 era camarista na Lapa, sócio de Rebello & Suplicy, era agricultor, lavrador, criador; em 1915 figura como camarista na Lapa, criador, capitalista, dono do engenho de serra Suplicy & Ciª. Em 1916 consta como presidente da câmara na Lapa, era criador e capitalista; em 1917, 1918, 1919 era prefeito da Lapa, exportador de gado, agricultor e lavrador, capitalista; em 1921, 1922, 1924, 1925, 1926 era camarista na Lapa e presidente de sua câmara municipal, criador, capitalista, agricultor e lavrador.


Ao inaugurar-se, em 9 de fevereiro de 1928, a estátua de corpo inteiro do general Carneiro, na Lapa, exercia mandato de prefeito Eduardo Correia Lima; Arthur Virmond Suplicy estava eleito para o mesmo cargo, cujo mandato exerceu nos anos seguintes.


Durante o sítio da Lapa, as tropas maragatas acamparam na enorme fazenda Roseira, que veio a pertencer a Arthur em 1896.


Maçom, foi eleito venerável da loja da Lapa, em 1900 e reeleito em 1901. Ao tempo, achava-se no grau 30. Também era ateu; seus filhos e filhas não foram batizados em criança (sua filha Isaura foi batizada adulta, para poder casar-se na igreja católica e o mesmo ter-se-á passado com seus manos.).







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