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Foto do escritorTião Maniqueu

VERGONHA CURITIBANA



O mau comportamento de um cidadão ofende a educação curitibana.


Imagem de UOL Notícias.


Os noticiários trouxeram a lamentável notícia de um cidadão desacatando frentistas num posto de gasolina. O homem verbalizou todos seus preconceitos e conhecimento de palavras de baixo calão enquanto um dos frentistas gravava tudo em seu celular. Ou seja, além de ser um poço de preconceito e extremamente mal educado, o cidadão provou-se um tolo. Afinal, ficou ali produzindo provas contra si mesmo, que o levarão a responder por preconceito racial, xenofobia ( o termo pode ser estendido a não estrangeiros ) e injúria.


A notícia em si não é novidade. Vivemos tempos esquisitos em que o preconceito saiu do armário, a xenofobia é bem vista e a grosseria é aplaudida em bolhas nas redes sociais. No entanto, sequer sei porquê, o fato de Curitiba ser palco deste triste espetáculo me incomoda. Não sei se o grosseiro agressor é nascido em Curitiba, mas não importa. Está vivendo aqui e, portanto, é curitibano.


Nós curitibanos temos fama de sermos reservados. Isso não nos incomoda, em absoluto. De fato, somos reservados. Não batemos na porta do vizinho pedindo uma xícara de açúcar. Prezamos o espaço confinado de nossas residências. Não dividimos intimidades, exceto com poucas pessoas. Mas não somos mal educados. O verdadeiro curitibano cumprimenta polidamente os vizinhos e coloca-se à disposição em caso de alguma necessidade. Troca algumas palavras protocolares nos elevadores e até esboça um sorriso. Somos assim: um texugo amável, embora com aparência carrancuda.


Então, cenas como a protagonizadas pelo cidadão no posto de gasolina do Boqueirão mexem com a gente. O homem provou-se racista, xenófobo e rico em preconceito social. Vamos analisar as sandices que saíram de sua boca ( um tanto suja ) e fazer algumas colocações que talvez ( oh, Poliana! ), sirvam ao cidadão para algum crescimento.


Chamou o frentista de "neguinho" e de "macaco", termos obviamente racistas que o conduzirão ao juízo criminal. É, portanto, destes cidadãos de pouco entendimento que - ainda - pensam ter alguma supremacia pelo simples fato de terem pele mais clara. Quando será que estes brancos entenderão que a pouca melanina não lhes traz vantagem alguma, mas algumas desvantagens na exposição aos raios solares? Capacidade, inteligência, decência, nada disso depende da coloração da pele, meu amigo, a ciência assegura. Ou o senhor é também um negacionista?


Em seguida, o cidadão saiu-se com esta: volte pro Nordeste, que é o seu lugar! A frase é estúpida em essência. O lugar de uma pessoa é onde ela deseja ir. Ao menos nas democracias, onde o cidadão pode decidir onde morar. Novamente o que norteia a frase xenofóbica é o preconceito, a ideia absurda de ser melhor por residir ou nascer no Sul do país. Ora, cidadão, escute: conheço muitos nordestinos, trabalho com eles. E todos são extremamente competentes, trabalhadores e agradáveis. Seu preconceito não se sustenta em fatos. Está apenas no torvelinho turvo de seus pensamentos.


Por último, o homem saiu-se com esta pérola: Eu sou empresário! Sou PJ! O que você ganha, eu pago quatro vezes só pra vir aqui te xingar... Ô sumidade, entenda. Você não é uma pessoa jurídica, ainda que tenha comparecido à Junta Comercial e aberto formalmente uma. Você continua uma pessoa física que vai responder por seu descontrole. Outra coisa... grandes coisas ser empresário. Você não é melhor que ninguém apenas por possuir uma empresa. Tampouco ter dinheiro faz de você uma pessoa melhor. A posse de muitos recursos financeiros apenas implica numa maior responsabilidade social, embora pouquíssimas pessoas afortunadas entendam isso. Essa ideia de que o sucesso financeiro implica num cidadão melhor, equiparando riqueza e caráter, perdoem-me o trocadilho, é paupérrima. O cidadão em foco parece ter uma inspiração norte-americana, onde o sucesso nos negócios é elevado à categoria das virtudes e onde o capital é quase uma divindade. Basta ver a admiração que Donald Trump granjeia, embora devesse ser execrado pelo seu comportamento e pelo histórico de suas aquisições.


Em suma, tudo muito lamentável... ofendeu minhas suscetibilidades curitibanas. E que me perdoem os 60% de eleitores bolsonaristas da minha Curitiba. Eu posso por minha mão no fogo: o tal empresário racista e xenófobo deve ser um eleitor de Bolsonaro. Ou será que este é um preconceito do cronista?







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